'Kansha' aos pioneiros do SPD em Mauá da Serra: uma história sobre o futuro

31-10-2024

Da Redação FEBRAPDP

Em japonês, kansha significa uma homenagem por gratidão. Não à toa, no último dia 23 de outubro, Dia Nacional do Plantio Direto, o município de Mauá da Serra, PR, foi o cenário de uma das mais importantes ações de celebração da data em 2024. A cidade completa 50 anos da chegada do Sistema Plantio Direto às lavouras locais. Uma história que permanece viva e ativa, caminhando em busca de um futuro mais sustentável. A região, com forte colonização japonesa, notabilizou-se por ter se tornado uma grande produtora de sementes de soja e trigo; um tipo específico de atividade que requer altos investimentos, manejos adequados e produtores muito tecnificados. Alinham-se nesse contexto, a tradicional dedicação nipônica, a união de várias famílias em torno da eficiência produtiva e a efetividade do SPD como ferramenta tecnológica.

O evento organizado por uma comissão formada pelos próprios produtores da região contou com aproximadamente 350 pessoas, entre elas produtores pioneiros da região de Mauá da Serra, Campo Mourão e Ponta Grossa, além de produtores da região e suas famílias, empresas do agronegócio, autoridades políticas, instituições públicas, Sistema FAEP e federação. “Tivemos homenagens feitas pela Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto – FEBRAPDP e também oferecidas pela comunidade produtora da região para pessoas e instituições que fizeram parte da História de implantação e difusão do SPD na região”, explica Vivian Yurie Uemura, descendente de uma das famílias pioneiras e membro da comissão organizadora do evento.

“É importante destacar a paixão, o amor pela terra empreendido pelos pioneiros locais. Era uma terra de samambaias e sapés e, mesmo com tantas dificuldades no começo, precisando lidar com a erosão e tudo mais, eles acreditaram na tecnologia, acreditaram numa mudança de vida que permitiu-lhes então mudar totalmente a realidade, transformando aquela terra desvalorizada numa terra hoje das mais valorizadas e produtivas do Brasil”. A presença de centenas de pessoas de toda a região em plena época de plantio, mostra o respeito, a consideração, e toda a admiração que essas famílias têm, não apenas produtores da região de Mauá, mas de todo o Paraná, e certamente de todos nós do Brasil e da FEBRAPDP, enfatiza Jônadan Ma, presidente desta instituição.

“Famílias muito unidas, que compunham um grupo de trabalho também muito unido. Isso fez essa história. A cultura japonesa mostra aqui que a união dos esforços entre tantas famílias, sem inveja, sem ciúme, e somando esforços, levam ao resultado que foi conquistado. Existe um trabalho muito bonito de sucessão, filhos e filhas, e segunda e terceira geração já na atividade, dando sequência as atividades dos pioneiros, mostrando que o futuro está presente”, celebra Ma.

Em sua fala durante o evento, ele enalteceu os 50 anos de história do SPD em Mauá mostrando que a região já está apontada para os próximos 50 anos como “um novo desafio que precisará ser escrito pela nova geração para que daqui a outros 50 anos tenhamos mais história ainda para contar sobre a evolução do plantio direto para o sistema plantio direto e sempre evoluindo com todos esses conceitos que nós estamos trabalhando”. Ainda para o presidente da FEBRAPDP, é fundamental destacar também a quantidade de parcerias que a comunidade foi capaz de construir ao longo do tempo junto a instituições de pesquisa, universidades, empresas, empresas de máquinas, empresas de insumos, fundamentais para o sucesso da empreitada.

Evidentemente, hoje, quando se fala em Mauá da Serra, não se pode deixar de citar o trabalho pela preservação da memória que é o Museu do Plantio Direto. Vivian conta que o museu foi inaugurado em 2012, tendo como objetivo contar a história e preservar o acervo do SPD no Brasil. “Existe uma estreita relação entre guardar essas memórias e a história do município, pois afirmo com toda a certeza, que se não fosse o Plantio Direto, Mauá da Serra não seria conhecida como uma região de altas produtividades e as famílias pioneiras, que chegaram em 1957, logo após sua colonização em 1954, não estariam mais aqui. Assim como muitas famílias saíram daqui devido às grandes dívidas causadas pelas perdas devido à erosão, muitas outras famílias seguiriam o mesmo caminho. As famílias que decidiram implantar o SPD e que com os ensinamentos do Herbert Bartz, foram persistentes nos desafios, hoje são reconhecidas por terem altas produtividades e serem comprometidas na conservação do solo”, destaca ela.

Estiveram presentes: o Secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Natalino Avance de Souza, representando o governador Ratinho Júnior; o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, o deputado federal Pedro Lupion; Carina Rufino, chefe de Inovação e Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, representando a presidente da Embrapa Silvia Massruhá; Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP; Hermes Wicthoff, prefeito municipal de Mauá da Serra e anfitrião desta solenidade; Sergio Kasutoshi Higashibara, diretor do Museu do Plantio Direto e presidente do Sindicato Rural de Mauá da Serra; além do próprio presidente da FEBRAPDP, Jônadan Ma, representando os produtores da agricultura sustentável do Brasil.

Colônia Japonesa de Mauá da Serra

Por Vivian Yurie Uemura

Em 23 de abril de 1957, chegou a Mauá o pioneiro Yukio Uemura, vindo de Alvares Machado, SP, atraído pelas boas qualidades das terras. Adquiriu uma área e iniciou a formação de sua propriedade. Yukio foi responsável pela vinda do segundo membro da colônia, o pioneiro Tamotsu Sato. Entre os anos de 1957 a 1961, mais de 100 famílias japonesas se instalaram na localidade, resultando na formação das Colônias Fuji, São José, Novo Oriente e Tupiatã. Com trabalho incansável, determinação e perseverança, foram transformando as extensas áreas cobertas por samambaias e sapés em lavouras produtivas. A partir do trabalho das famílias japonesas intensificou-se a agricultura com grande movimentação e diversificação.

Ciclo da batata - No início, as famílias não contavam com recursos financeiros para desenvolverem uma agricultura planejada. A saída foi o cultivo da batata (batatinha), cujas produções superaram as expectativas, possibilitando a organização das propriedades, e a introdução de outras culturas como a do milho, a do arroz e a horticultura.

A mecanização - O poder de gerar riquezas dos descendentes da "Terra do Sol Nascente", contou com a participação da Cooperativa Agrícola de Cotia, instalada em 1962, que passou a fornecer insumos, financiamentos e assistência técnica. Outra empresa que se empenhou na evolução da agricultura de Mauá, foi a Sementes Mauá, dirigida por Ywao Miyamoto, Tomoaki Miyamoto e Shinji Sunada, três engenheiros agrônomos naquela época.

Com a entrada do Plantio Direto a partir de 1974, a região consolidou-se de vez nas culturas de soja e trigo e a mudança para a mecanização agrícola, triplicou a produtividade. Hoje se passaram quase 70 anos que os pioneiros se instalaram, e deixaram seu legado e o maior bem para seus sucessores, a terra, conduzida pela terceira e quarta gerações.

Sobre o futuro, temos uma grande responsabilidade em melhorar a qualidade do solo, reestabelecendo novamente o equilíbrio entre microrganismos, planta, solo, água. Em algumas áreas, devido ao uso intensivo de insumos agrícolas, maquinários pesados, estamos presenciando uma compactação que tem atrapalhado a interação água-oxigênio-microrganismos-nutrientes-raízes. Sempre temos novos desafios, e é o que nos mantém sempre em busca de soluções, e com essa sede de manter o legado que nos foi deixado. Existe uma frase que eu levo para minha vida: ‘não herdamos a terra dos nossos pais, mas sim, pedimo-la emprestada dos nossos filhos’. E é por isso que devemos entregar melhor do que quando recebemos.