Novo zoneamento agrícola altera as janelas de plantio do consórcio milho-braquiária em MS

05-10-2021

Por Sílvia Zoche Borges, Embrapa Agropecuária Oeste

Resultados para validação do zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) do consórcio milho-braquiária de 2ª safra (safrinha) para Mato Grosso do Sul foram apresentados on-line, no último dia 23 de setembro de 2021. A videoconferência reuniu técnicos da assistência técnica, além de representantes do governo, cooperativas e consultorias.

Esse evento que tem como objetivo saber se os resultados e definições estão coerentes, se representam a realidade dos cultivos. A abertura da Reunião foi realizada pelo pesquisador Carlos Ricardo Fietz, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), unidade organizadora da reunião. “O ZARC é mais conhecido por indicar as melhores épocas de semeadura para a redução do risco climático, mas também indica práticas de manejo visando ao aperfeiçoamento das práticas de produção”, disse.

Desde a década de 1990, o ZARC é usado nas políticas agrícolas. O milho safrinha em MS é muito importante, depois da soja. Tem uma área plantada de 2 milhões de hectares. “Há uma dificuldade em saber quanto dessa área total de milho é consorciado ou é milho solteiro. Em 2017, há um trabalho do Gessí Ceccon que mostrou que a área com consórcio era de 50%. Temos que atualizar esses dados”, afirmou Fietz.

O ZARC é uma ferramenta em constante evolução. Hoje nós vamos apresentar recomendações das épocas mais favoráveis do plantio revisadas. A introdução de reuniões de validação permite a participação dos usuários e possibilita ajustes desde que haja justificativa técnica.

 

O zoneamento agrícola de risco climático

A primeira apresentação foi do analista Balbino Antônio Evangelista, da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO). Ele explicou que para validar o ZARC existe orientação do MAPA para que os representantes da cadeia produtiva saibam o que é o Zarc, como ele é elaborado e com isso, possam avaliar os resultados e apontar se representam ou não a realidade do campo, dos cultivos. Possíveis ajustes são realizados antes do estudo final ser enviado ao MAPA para publicação.

É um projeto coordenado pelo Mapa e executado pela Embrapa e parceiros. Esse trabalho integra a Rede ZARC, cooperação técnica e institucional. Fazem parte da Rede ZARC o Banco Central do Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento (Faped). “Desde de 18 de junho de 2019, há um decreto Presidencial que normatiza o ZARC no âmbito do Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Agroclimático e coube à Embrapa a coordenação técnico-científico e a operacionalização dos estudos. Para isso, dentro da Embrapa, há 32 Unidades que formam uma rede envolvida neste trabalho”, explicou Evangelista.

Estudos apontam que o Brasil perde R$ 11 bilhões por ano devido a extremos climáticos (deficiência hídrica, geadas, temperaturas altas, granizo e vendaval). “Daí a importância de organizar informação, dados, pesquisa e ciência no âmbito da agricultura”, disse Evangelista. Dentro dos fatores que controlam a produtividade está o clima. O clima é responsável por 70% a 75% das produtividades.

A probabilidade de sucesso dos cultivos agrícolas tem que ser acima de 60%. No cenário de análise, são considerados tipos de solo (atualmente, são três, futuramente, pode chegar a dez), ciclo das cultivares e clima. “O ZARC é um grande indutor de tecnologia e eficiência”.  Relatório do TCU aponta que entre 1991 a 1998 as perdas com o zoneamento agrícola reduziram de 11,5% para 2,7%, considerando a média de algumas culturas amparadas pelo seguro rural (Proagro).

 

Metodologia

O ZARC usa os modelos agrometeorológicos, séries históricas de dados (próximo a quatro mil postos pluviométricos para subsidiar os estudos pelo Brasil), e estimativas de evapotranspiração de referência.

O balanço hídrico da cultura leva em consideração o clima (precipitação pluviométrica e evapotranspiração de referência – ETo), o solo (profundidade do perfil e capacidade de armazenamento de água – CAD) e a cultura (ciclo: precoce, médio; fases fenológicas: I, II, III e IV); coeficiente de cultura (Kc) e profundidade do sistema radicular. São considerados três tipos de solos: textura arenosa (Tipo 1), textura média (Tipo 2) e textura argilosa (Tipo 3). O CAD em milímetros, analisado na cultura do milho solteiro foi de 30 mm no solo tipo 1, enquanto o consórcio de milho com braquiária foi de 36,4 mm. No solo tipo 2, o CAD do milho foi de 47 mm e no consórcio, 57,2 mm. No solo tipo 3, o CAD do milho foi de 72 mm e o do consorcio, 78 mm.

Para a modelagem desse estudo, foi realizada a determinação dos parâmetros do solo e da cultura, como a água disponível, fases fenológicas da cultura e curvas de crescimento e consumo de água; assim como a definição dos critérios de decisão e risco: limites hídricos e térmicos, geada, temperatura, etc., níveis de corte e de risco, entre outros.

“Para avaliar os riscos de ocorrência de falta de chuva nas fases de semeadura, desenvolvimento inicial das plantas, e também nas fases de florescimento e enchimento de grãos, e indicar as janelas de plantio, utiliza-se um sistema de análise regional de risco agroclimático”, relatou Evangelista. Com a validação dos dados, de acordo com os resultados e realidade do campo, é possível que o produtor seja beneficiado por programas como PSR, Proagro, Proagro+ e Seaf.

 

Condição de plantio

O pesquisador Éder Comunello, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), tratou da revisão do zoneamento, apresentando o risco associado a diferentes épocas de plantio, ciclo e tipo de solo em Mato Grosso do Sul.

Houve grande preocupação dos participantes com os resultados apresentados para solos do tipo 1 (arenosos), indicando uma grande demanda por esses ambientes para produção de milho em consórcio. “Infelizmente, dadas as características naturais desses solos, que comprometem o armazenamento de água, os resultados apresentados são bem mais restritivos, do que nos solos 2 e 3, e trazem grandes riscos de insucesso”, disse o pesquisador. Nesse ponto, os pesquisadores da Embrapa Silvando Carlos da Silva e Balbino Evangelista informarão que, em breve, o ZARC passará a considerar práticas de manejo em sua modelagem, o que poderá melhorar a janela de plantio nesses ambientes, desde que adotada a tecnologia apropriada.