Benefícios da matéria orgânica dos solos em sistemas integrados

Por Alberto C. de Campos Bernardi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste

Benefícios da matéria orgânica dos solos em sistemas integrados
Dia Mundial do Solo - Foto: Divulgação FAO

Para atingir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5°C, as emissões de dióxido de carbono (CO2) precisam atingir o chamado cenário de emissão zero até 2050. Para atingir este objetivo é necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), descarbonizar a economia e aumentar a remoção de carbono da atmosfera. Para isso, é urgente o combate ao desmatamento ilegal e a implementação de práticas que promovam a sustentabilidade, como a agricultura conservacionista. Somente assim, o Brasil será capaz de cumprir seus compromissos climáticos de forma eficaz e sustentável.
O sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma das formas da agricultura conservacionista, pois tem como base a manutenção da cobertura vegetal permanente, diversificação com a rotação, sucessão ou consórcios de culturas, e o revolvimento mínimo do solo com o plantio direto. Estas práticas agrícolas contribuem para a sustentabilidade dos sistemas de produção, melhorando as propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos, aumentando a ciclagem e a eficiência de utilização dos nutrientes pelas plantas, diversificando e estabilizando a renda e elevando a competitividade na propriedade rural, além de viabilizarem a recuperação de áreas com pastagens degradadas. Ainda, os modelos ILPF se caracterizam pela intensificação sustentável, ou seja, ao mesmo tempo em que possibilitam altas produtividades das culturas e melhoram a qualidade da forragem ofertada aos animais, promovem a melhoria dos serviços do ecossistema, como sequestro de carbono, recarga de aquíferos, melhoria da qualidade do solo. A adoção dos sistemas integrados representa um avanço significativo na busca da sustentabilidade da agricultura brasileira.
As alterações observadas nos sistemas integrados nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo estão ligados à quantidade e qualidade do carbono orgânico. Os resultados de pesquisa da Embrapa e seus parceiros comprovam que esses solos acumulam maior quantidade de carbono, e que a estabilidade dessa matéria orgânica é maior do que nos sistemas convencionais. Porém, se um solo sob condição natural ou sob sistemas conservacionistas são reservatórios de carbono orgânico, solos degradados, que sofreram erosão, perderam sua estrutura e conteúdo de nutrientes, além de diminuir sua capacidade produtiva, são fontes de emissão de carbono para a atmosfera.
A estrutura do solo refere-se à organização dos componentes minerais (areia, silte e argila) com a matéria orgânica do solo formando os agregados. Esse atributo tem impacto significativo na infiltração e capacidade de retenção de água, e na água disponível para as plantas, e pode ser alterada pelas práticas de manejo como preparo do solo, calagem, e rotação de culturas. Então, a presença da matéria orgânica garante a qualidade e saúde dos nossos solos tropicais, com maior armazenamento de carbono, maior eficiência no uso de água e nutrientes pelas plantas e, portanto, maiores produções, além de atuar no equilíbrio global do C na atmosfera.
Os solos ricos em matéria orgânica também proporcionam o habitat ideal para minhocas e outros organismos do solo, que aumentam os espaços dos poros e melhoram sua a estrutura.
Além disso, o aumento do sequestro de carbono no solo também gera cobenefícios, auxiliando a alcançar vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, pois contempla aspectos econômicos, sociais e ambientais, em particular aqueles relacionados à redução da fome (ODS 2) e pobreza extrema (ODS 1, 3) e melhoria da proteção do meio ambiente (ODS 6 , 11, 12, 14, 15) e o clima global (ODS 13).
Para reforçar a importância dos solos na garantia da segurança alimentar, serviços ambientais e combate às mudanças climáticas, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estabeleceu o dia 5 de dezembro como o Dia Mundial do Solo. Os sistemas conservacionistas para agricultura sustentável representam importante estratégia para conservação e melhoria desse recurso natural e a descarbonização da agropecuária brasileira.