Congresso na Rússia discute saúde do solo e agricultura sustentável com especialistas globais

Da Redação FEBRAPDP

Congresso na Rússia discute saúde do solo e agricultura sustentável com especialistas globais
Evento reúne cientistas, políticos e produtores rurais para debater tecnologias de conservação do solo e mercados de carbono - Imagem: Divulgação

Entre os dias 9 e 12 de junho de 2025, Samara, na Rússia, será palco do Congresso Internacional Climate, Soil Health, Agricultural Technologies (Clima, Saúde do Solo e Tecnologias Agrícolas), um encontro que reune especialistas de diversos países para discutir soluções sustentáveis diante da crescente degradação dos solos e das mudanças climáticas. Organizado por instituições como a Academia Russa de Ciências e a Embrapa, o evento tem participação híbrida (presencial e online)A temática da degradação do solo e urgência por soluções são destaques. 

Dados apresentados no congresso mostram que 430 milhões de hectares de terra agricultável – quase um terço do total mundial – já foram perdidos devido à erosão e outros tipos de degradação. Diante desse cenário, a agricultura conservacionista surge como uma alternativa viável, capaz de sequestrar até 10,5 toneladas de carbono por hectare/ano e melhorar a resiliência dos solos. "Precisamos de sistemas agrícolas regenerativos que combinem produtividade, redução de emissões e adaptação climática", afirma Liudmila Orlova, presidente do Movimento Nacional para a Agricultura Conservacionista da Rússia.

Destaques da programação
O congresso terá painéis sobre políticas públicas, inovações tecnológicas e casos de sucesso em diferentes países. Entre as pr
esenças confirmadas está a da professora Marie Bartz, da UFSC e diretora da FEBRAPDP, que fala sobre: "Biodiversidade do solo e agricultura conservacionista – juntas pela sustentabilidade dos agroecossistemas". Sua apresentação destaca o papel crucial dos microrganismos e da fauna do solo, como minhocas, para a saúde dos ecossistemas agrícolas, com base em pesquisas realizadas no Brasil.

Outros temas em debate incluem: os mercados de carbono agrícola e seu potencial para financiar práticas sustentáveis; tecnologias de precisão e monitoramento de solos, e experiências práticas de produtores russos e estrangeiros com agricultura conservacionista.

Visita técnica e networking
No último dia, os participantes poderão
visitar o Sítio Experimental de Carbono Agrícola "Agro Engineering", onde são testadas técnicas inovadoras de manejo do solo. Haverá ainda um evento opcional no dia 12 de junho, com uma excursão à Samarskaya Luka, região conhecida por sua biodiversidade e solos únicos.

Integração de pesquisas e expectativas para colaborações futuras

Marie Bartz é especialista em macrofauna do solo e SPD, antes de viajar, ela destacou sua expectativa para o congresso: "Vou compartilhar a experiência brasileira com indicadores de saúde do solo, especialmente nossos estudos sobre minhocas e biodiversidade, e como isso se conecta com a evolução do Sistema Plantio Direto no Brasil. A ideia é mostrar por que essa abordagem é crucial para a sustentabilidade". Ela ressaltou ainda a importância do evento como ponte para parcerias internacionais, citando reuniões prévias com a Universidade Agrária Estadual Russa em Moscou: "Queremos articular pesquisas conjuntas e trocar conhecimentos técnicos, fortalecendo a cooperação entre BRICS".

Missão técnica e troca de experiências práticas
Além das palestras, Bartz enfatizou a agenda prática do evento. N
esta quinta-feira, dia 12 de junho, os participantes farão uma visita técnica a áreas rurais de Samara para discutir aplicações reais das tecnologias debatidas. "Será uma oportunidade única para ver em campo como a Rússia está lidando com os desafios do solo e do clima, e como podemos adaptar essas lições ao contexto brasileiro", explicou. Ela também mencionou a participação de outros pesquisadores brasileiros, como Pedro Freitas (Embrapa Solos), que trará dados sobre manejo de carbono em solos tropicais, reforçando o papel do Brasil como referência em agricultura sustentável.

Perspectivas pessoais e legado científico
Para Bartz, a viagem transcende o aspecto profissional:
"É minha primeira vez na Rússia, um país com tradição reconhecida em ciência do solo. Estou animada para aprender com essa troca e, quem sabe, estabelecer projetos de longo prazo". A pesquisadora ainda destacou o simbolismo do evento: "A FAO defende a agricultura conservacionista como solução global, e esse congresso é um passo para unir esforços entre países com realidades distintas, mas desafios comuns". Ela espera que as discussões informais e as visitas técnicas rendam frutos concretos para avanços na pesquisa e nas políticas públicas relacionadas ao solo.

Participação brasileira
O congresso contará com a participação de destacados profissionais brasileiros, incluindo Paula Packer, pesquisadora da Embrapa, que abordará temas relacionados à agricultura conservacionista, e o já mencionado Pedro Freitas, também da Embrapa Solos, especializado em manejo e conservação de solos, que apresentará os avanços da agricultura regenerativa no contexto tropical e as oportunidades de colaboração entre os países do BRICS+. 

O congresso ocorre em um momento crítico: segundo a FAO, áreas sob agricultura conservacionista dobraram na última década, atingindo 205 milhões de hectares globais. A integração de ciência, políticas e práticas agrícolas será chave para atingir metas climáticas e de segurança alimentar.