Embrapa e Microgeo consolidam ferramenta para avaliar a qualidade biológica de solos

Por Cristina Tordin, Embrapa Meio Ambiente

Uma pesquisa de campo foi desenvolvida em parceria entre a Microgeo Biotecnologia Agrícola e a Embrapa Meio Ambiente, para testar na prática um conjunto de indicadores dirigidos a avaliar a qualidade biológica do solo e o desempenho produtivo associado à adoção da tecnologia Microgeo. Denominado APOIA-Microgeo, o sistema de indicadores oferece uma base integrada de informações para tomada de decisões sobre o manejo da fertilidade biológica dos solos. Mesmo que aplicado em fazendas de referência nas situações mais variadas, em quatro cultivos (soja, milho, algodão e cana-de-açúcar) e sete regiões diferentes (de SC ao MT e no Paraguai), observou-se desempenho superior em todas as áreas tratadas com a tecnologia Microgeo.

Especialmente, correlações significativas foram obtidas entre as médias dos índices integrados de Qualidade dos solos e a dimensão Biologia dos solos, seguida das dimensões Química do solo e Cultura - esta última possivelmente uma consequência das outras, antes que uma causa. Em consequência desses indicadores, nas áreas tratadas com a biotecnologia Microgeo, a produtividade média foi amplamente favorecida, resultando em expressivos ganhos em receita líquida.

Segundo o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Geraldo Stachetti, "entende-se que a conformidade das escalas de expressão gráfica, a coerência entre dimensões e indicadores com índices de respostas ‘melhores’, as amplitudes dos índices obtidos (expressivas, mas não extremas), todos apontam para adequada calibração e sensibilidade do conjunto de indicadores APOIA-Microgeo para qualidade biológica dos solos".

Tecnologias

A biotecnologia Microgeo, voltada a restabelecer a biodiversidade de microrganismos do solo e melhorar o desempenho dos sistemas agropecuários, tem sido empregada em ampla variedade de cultivos e ambientes produtivos no Brasil e no exterior. 

A ideia do projeto é “prover um método que permita, aos produtores rurais e agentes de assistência técnica, registrar, interpretar e comunicar resultados integrados de qualidade do solo e desempenho de cultivos associados à adoção da tecnologia Microgeo, obtidos em análises e experimentos em áreas de produção agropecuária e fazendas de referência”, explica Stachetti.

“A ferramenta visa possibilitar, de fato, uma agricultura sustentável. O domínio de conhecimentos sobre a microbiologia do solo (microbioma), em conjunto com dados de física, química, sanidade vegetal e desempenho produtivo associado, promove a eficiência dos insumos e das operações de manejo, gerando reduções de custos e de riscos”, afirma Caio Suppia, diretor de Desenvolvimento Humano e Marketing da Microgeo.

Consolidado em um sistema denominado APOIA-Microgeo, o diferencial da ferramenta é a integração dos indicadores agrícolas em abordagem multiatributo, a qual reúne as informações em cinco dimensões de impacto e desempenho técnico: cultura (desenvolvimento vegetativo e desempenho produtivo, 9 indicadores), química, física, biologia do solo, defesa da planta.

Na prática, munidos desse aplicativo, os técnicos foram a campo em fazendas com histórico de adoção da biotecnologia Microgeo, com diferentes cultivos - soja (Paraguai e Santa Catarina); algodão (Mato Grosso); cana-de-açúcar (São Paulo); milho (Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás) – para realizar as coletas dos indicadores seguindo orientações amostrais padronizadas. Conforme explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Rodrigo Mendes, considerando que a aplicação da biotecnologia Microgeo em sistemas produtivos prevê o impacto positivo no funcionamento do microbioma do solo, neste projeto amostras da rizosfera e de solo da entrelinha de sistemas produtivos foram coletadas e submetidas ao sequenciamento genético para o estudo das comunidades de fungos e bactérias. Os resultados foram apresentados e analisados durante uma oficina de resultados e análise crítica, realizada em 22 de setembro na Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, SP.

Resultados de campo – indicadores de impacto

Entre os principais resultados obtidos na pesquisa de campo, observou-se que os índices de impacto, isto é, o comparativo entre áreas com adoção da tecnologia Microgeo e áreas controle, foram os mais expressivos; principalmente nas dimensões biologia dos solos (enzimas Arilsulfatase e Beta-glucosidase), seguida de Química e Física (compactação) dos solos e, em resposta a esses impactos positivos, a dimensão Cultura. Com as melhorias observadas nessas dimensões, em especial os indicadores de Cultura (desenvolvimento vegetativo e desempenho produtivo) trouxeram resposta de maior interesse aos produtores, incluindo desenvolvimento radicular, vigor das plantas, desenvolvimento vegetativo, em quantidade de entrenós, comprimento dos colmos, vagens ou grãos por planta) e qualidade do produto. 

Uma estreita correlação entre os indicadores de produtividade e de receita líquida, ainda que naturalmente esperada, atesta que esses ganhos são realizados sem expressivos aumentos de custos, apontando para a viabilidade da biotecnologia Microgeo frente aos preços crescentes dos adubos químicos convencionais e demais insumos. Esses resultados dos índices de impacto, que representam ganhos relativos entre áreas tratadas e áreas controle, se revestem de grande significado; uma vez que os índices de desempenho foram mais modestos. Como esses índices de desempenho representam a condição local observada, em relação a um nível adequado ou almejado, indica-se que ainda há espaço para ganhos ulteriores, conforme as aplicações de adubos biológicos se repitam ao longo das safras, potencializando a expressão dos impactos observados.

Análises preliminares das amostras de solo que foram submetidas a avaliação de sequenciamento genético apontaram que o manejo biológico afeta positivamente e de forma duradoura a composição do microbioma associado à soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, resultando em sistemas de produção com melhor desempenho. A análise do microbioma associada a uma visão integrada dos indicadores físicos, químicos e biológicos, permitirá estabelecer correlações entre membros benéficos do microbioma e os parâmetros de qualidade do solo, pavimentando o caminho para desenvolvimento de estratégias de manejo do microbioma do solo e favorecendo uma agricultura mais sustentável.