Embrapa monitora qualidade da água em Mato Grosso do Sul

Por Rômulo Penna Scorza Júnior, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

Embrapa monitora qualidade da água em Mato Grosso do Sul
Foto: Divulgação Embrapa

O Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, foi criado em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), quando foi publicada a Declaração Universal dos Direitos da Água. Um dos artigos dessa declaração estabelece que a água não deve ser desperdiçada e nem poluída. Enfim, duas preocupações vivenciadas constantemente nos dias de hoje!

 

O Brasil possui 12% de toda água doce superficial disponível no mundo, conferindo-lhe uma posição de destaque quanto à disponibilidade de recursos hídricos. Nesse contexto, Mato Grosso do Sul é privilegiado quanto à disponibilidade de água (superior a 36.000 m3 por habitante por ano), conferindo o “status” de estado brasileiro rico em água superficial.  Embora privilegiados por essa grande disponibilidade de água superficial, há necessidade de garantir sua qualidade para as gerações atuais e futuras.

 

Diante dessa preocupação e alinhada na contribuição para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 da ONU, que trata de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos, o Laboratório de Análises Ambientais da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, desenvolve trabalhos de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em águas superficiais de Mato Grosso do Sul. Os resultados de monitoramento são publicados anualmente e disponíveis para toda a população (https://bit.ly/3wxgUx2).

 

Para o Rio Dourados, por exemplo, os resultados indicaram no ano de 2020 que a maior concentração encontrada foi de 0,13 µg L-1 para o herbicida atrazina, e que esse valor não ultrapassou o valor máximo permitido pela legislação brasileira de 2 µg L-1. A legislação que trata dos valores máximos permitidos de agrotóxicos em água superficial é a Resolução CONAMA n° 357 de 17/03/2005. No entanto, é importante salientar que de um total de 32 diferentes agrotóxicos detectados no Rio Dourados durante o monitoramento de 2020, apenas um deles (a atrazina citada acima) possui o valor máximo permitido em nossa legislação. Ou seja, para os outros 31 agrotóxicos detectados, não se tem esses valores máximos permitidos para comparação da conformidade com a legislação. Portanto, trabalhos de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em águas superficiais no Brasil são importantes para subsidiar a atualização das legislações, uma vez que esses estudos demostram a frequência recorrente da detecção de resíduos de agrotóxicos.        

 

Juntamente com a riqueza em água superficial, o estado de Mato Grosso do Sul possui uma agricultura pujante, composta basicamente pelos sistemas de produção de soja, milho e cana-de-açúcar. Uma das práticas recorrentes nesses sistemas de produção é o uso de agrotóxicos que, além de serem fundamentais como uma das opções no controle químico das pragas, doenças e plantas daninhas, podem apresentar efeitos indesejáveis ao meio ambiente e seres humanos.

 

Com relação ao meio ambiente, os agrotóxicos, em determinadas condições, podem ser transportados para as águas superficiais e colocar em risco a biodiversidade aquática e a qualidade das fontes de captação de água para a população humana. O transporte dos agrotóxicos para as águas superficiais ocorre, principalmente, devido ao seu escoamento superficial no solo juntamente com a água de enxurradas que se formam logo após chuvas intensas.