Erros do senso comum tornam lavoura mais cara e menos eficiente

Da Redação FEBRAPDP

Erros do senso comum tornam lavoura mais cara e menos eficiente
Crotalaria - Foto: Valdinei Sofiatti/Embrapa

“Muitas vezes, é vendida por aí a ideia de que quanto mais fertilizante nós usamos, nós vamos ter produtividade; quanto mais insumo nós aplicamos, nós vamos ter maior produtividade. Isso não é verdade...”

Vai ser dentro de uma trincheira que dois dos maiores nomes da pesquisa em agricultura conservacionista no Brasil, Ricardo Ralisch e Ademir Calegari, farão a apresentação da Estação 4, da Tarde de Campo que acontecerá durante o 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto, entre os dias 9 e 11 de julho, em Luís Eduardo Magalhães, BA. O tema é Manejo com plantas de cobertura para descompactação do solo e DRES. E mostrará como é fácil o senso comum a respeito de práticas na lavoura levar a muitos erros de interpretação e de manejo, na maioria das vezes piorando a situação, aumentando os custos de produção, diminuindo a produtividade e colocando a área em risco de encrostamento superficial e de erosão. Confira a seguir as entrevistas concedidas por Ralisch e Calegari sobre o que será apresenta, in loco, ao público participante. 

Sobre o palestrante:
Ricardo Ralisch

  • Professor Doutor em Mecanização e Manejo do Solo na Universidade Estadual de Londrina, UEL, Paraná
  • Conselheiro da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP

O senhor terá uma importante participação no 19º ENPDP; mais exatamente na Estação 4 da Tarde de Campo do evento. Abordará o tema: Trincheira: Manejo com plantas de cobertura para descompactação do solo e DRES. Gostaria de saber sobre que aspecto exatamente do assunto abordará e como essa temática, sob o ponto de vista prático, é importante para o produtor nos dias de hoje, quando a produtividade do modelo produtivo e os múltiplos aspectos da sustentabilidade estão tão entrelaçados?

Ricardo Ralisch: A compactação do solo ainda suscita muitas dúvidas quanto à sua definição e principalmente quanto ao seu controle. O senso comum leva a muitos erros de interpretação e de manejo, na maioria das vezes piorando a situação, aumentando os custos de produção, diminuindo a produtividade e colocando a área em risco de encrostamento superficial e de erosão. A Estação 4 fará uma rápida explanação sobre a definição da compactação como sendo a degradação da estrutura do solo, que é o principal componente da sua fertilidade e para isto ilustrará com o DRES, Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo, que sintetiza mais de 30 anos de estudos da estrutura do solo. O controle da compactação, ou seja, a recuperação da estrutura do solo só se consegue com a atividade biológica do solo que é alimentada pelas raízes das plantas e este será o ponto alto da estação, quando Dr. Ademir Calegari vai demonstrar a produção de biomassa aérea e de raízes de um mix de plantas de cobertura do solo, para ser usado na entressafra e proteger ou recuperar a estrutura do solo. Com esta estratégia bem ajustada para cada realidade os produtores preservarão suas produtividades boas, com redução do custo de produção, protegendo o solo, a água, a atmosfera e a biodiversidade; ou seja, rumando para a sustentabilidade.

 

Para além das informações técnicas, o que particularmente o senhor espera levar ao público que passará pela estação em termos de ação e/ou reflexões acerca da percepção do sistema produtivo e da questão de sua efetiva sustentabilidade?

Ricardo Ralisch: Pretendemos enfatizar a importância das práticas de rotação de culturas e a adoção das culturas de coberturas, de preferência os mix de plantas, para aumentar a proteção do solo, e consequentemente dos demais recursos naturais, água, atmosfera e biodiversidade, o que otimiza as produtividades, minimiza os efeitos dos eventos extremos do clima, protegendo a produção. Isto se consegue com bom planejamento e com uso das boas informações, como as que serão colocadas à disposição dos produtores e suas assistências técnicas neste 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto.

Sobre a palestrante:
Ademir Calegari

  • Engenheiro agrônomo, com Master of Sciences na Aberdeen University, na Escócia, com doutorado em agronomia e uma experiência de 47 anos em plantas de cobertura e Sistema Plantio Direto.
  • Pesquisador sênior do IAPAR, consultor nacional e internacional e trabalhando em doze estados brasileiros

Sobre o tema Trincheira: Manejo com plantas de cobertura para descompactação do solo e DRES, qual aspecto o senhor abordará e como essa temática, sob o ponto de vista prático, é importante para o produtor no momento atual?

Ademir Calegari: Eu vou abordar lá é exatamente o papel maravilhoso que o perfil do solo é melhorado, é levado a uma condição adequada, quando níveis bons de nutrientes são colocados, quando não tem compactação severa, compactação física e química, como quando há falta de nutrientes, tiver muita acidez, alumínio. Então vamos mostrar no perfil que, o que acontece quando somamos um mix de plantas de cobertura, de diferentes espécies, diferentes resultados radiculares. Todo esse conjunto de espécies, famílias diferentes, com resultados diferentes, favorecem e estimulam o desenvolvimento de diferentes microrganismos dos solos. Isso vai aumentar a biodiversidade, o que é fundamental. Se você tiver variedades diferentes da mesma espécie, terá ácidos orgânicos, resultados e comportamentos diferente no solo. Vamos mostrar objetivamente o que o produtor pode fazer, inclusive antes da soja ou antes do milho ou antes do algodão, ou nos casos também temos trabalho junto de mix de planta no meio do girassol, no meio do próprio sorgo e também no meio do milho. Temos doze ou treze plantas que podem ser adaptadas no milho safrinha, e vão se desenvolver muito bem, fazer o seu papel que é fixar a hidrogênio (no caso das leguminosas), solubilizar fósforo e potássio, reciclar e ciclar potássio, trazer hidrogênio para o sistema, buscar enxofre e boro e estimular os microrganismos. Com esse estímulo, com essa “comida”, elas produzem os resultados que esses compostos de carbono vão proporcionar. Os açúcares vão alimentando essa vida no solo, essa vida de bactérias, fungos, actino bactérias, algas e protozoários e outros, que são fundamentais para essa grande biodiversidade. E essa biodiversidade, vai abrir canais, vai abrir bioporos fundamentais para a infiltração do ar, para a infiltração da água e também das raízes dessas plantas, das plantas das culturas comerciais que virão depois. É assim que nós vamos melhorar, reequilibrar esse solo nos atributos biológicos, químicos e físicos, então o uso de planta de cobertura, o mix, é um componente fundamental, como tem outros, inclusive o uso de compostagem, o de resíduos, animais, para aumentar micro, meso, macrofauna e flora, minhocas e outros organismos macrorganismos, são fundamentais também, e essas do mix são fundamentais. Nós vamos mostrar que o produtor pode ganhar com isso, aumentando a eficiência daquilo mais do fertilizante que ele usa, do manejo que ele faz para aumentar a produção e a produtividade, tornando esse solo, essas plantas, essas culturas mais resilientes, aguentando mais a seca, aumentando o crescimento radicular. Com a proteção do solo vai diminuir evaporação, diminuir ocorrência de doença. Muitas dessas plantas são antagônicas, têm fator de reprodução baixo para nematoide, elas vão diminuir nematoides, juntamente com os ativos biológicos, como bacilos, com trichoderma, outros azospirillum, hipocônia, paecilomyces e outros que também vão ajudar na ciclagem de nutrientes, na melhoria dessa biodiversidade, consequentemente diminuindo doença, diminuindo nematoides e aumentando o potencial produtivo das culturas comerciais.

 

Para além das informações técnicas, o que particularmente o senhor espera levar ao público que passará pela estação em termos de ação e/ou reflexões acerca da percepção do sistema produtivo e da questão de sua efetiva sustentabilidade?

Ademir Calegari: Eu vou enfatizar é que, muitas vezes, é vendido por aí a ideia de que quanto mais fertilizante nós usamos, nós vamos ter produtividade; quanto mais insumo nós aplicamos, nós vamos ter maior produtividade. E isso não é verdade. Nós temos, sim, é que cuidar para fazer um plantio direto com qualidade, que tenha a maior parte do tempo o solo coberto, que não tenha compactação ou compactação leve, para que nós possamos usar raízes e plantas para fazer esse papel fundamental, e usar biodiversidade, usar rotação, usar o conjunto de plantas juntos, que poderão ser usadas, inclusive, em muitas situações para alimentação animal e melhorando esse solo. Então, o que vamos mostrar para o público é que precisamos construir um perfil de solo, e essa construção vai passar também pela escolha de cultivares que suportam mais condições adversas, vamos mostrar o estudo que revela necessidade de que cada talhão da propriedade, cada talhão homogêneo tem que ser tratado diferentemente. Isso precisa ser levado em consideração e ali utilizar adequadamente aquelas plantas, aquele manejo de acordo com as condições climáticas, da distribuição de chuva, se tem irrigação ou não, se tem doença ou não, se tem nematoide ou não. O diagnóstico é fundamental para o próximo passo pois é a essência para o caminho de desenvolver uma agricultura regenerativa, um plantio direto, uma agricultura sustentável, um plantio direto com qualidade. Nós precisamos saber os passos seguintes, precisamos saber onde estamos, o que o solo está pedindo, abrir uma trincheira, ver as raízes, conversar com as raízes, ver o que esse solo está nos pedindo e o que nós podemos fazer para que ele possa estar coberto, temos que proteger a “pele” do solo, sempre mantendo a cobertura, para manter a vida. Mantendo-se a vida o ano todo, preserva-se a umidade e aumenta-se o potencial produtivo. O segredo é um bom diagnóstico e utilizar adequadamente planta de cobertura, ajustes nutricionais de macro, micro, questão de acidez, alumínio, micronutrientes e também a questão dos biológicos, de inundar de diferentes ativos biológicos, diferentes espécies, diferentes gêneros e consequentemente a Mãe Natureza vai saber selecionar quais aqueles que são para aquele subsistema de baixada, ou aquele solo subsistema de arenoso, ou uma outra região que tem matéria orgânica, outra região uma montanhosa; ou seja, a natureza vai selecionar os organismos que se adaptam para cada condição específica. Mas para que isso aconteça, nós temos que criar essas condições favoráveis para os microrganismos, para crescimento de plantas, para que as plantas possam crescer suas raízes, infiltrar água e aumentar a matéria orgânica, sequestrar o carbono, aumentar a área de superfície específica e é essa esponja que segura a água, segura nutrientes e segura os microrganismos, aumenta a vida, consequentemente nós vamos ter um maior potencial produtivo, com maior lucratividade e acima de tudo com custo de produção mais baixo. Esse é o nosso apelo.

 

Inscrições e associação à FEBRAPDP

Para participar do 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto e ter acesso aos benefícios de associado, que incluem descontos nas inscrições, basta associar-se à FEBRAPDP (link também disponível no site de inscrição do evento). Dentre os benefícios de ser um associado estão: o certificado exclusivo de associado FEBRAPDP; acesso ao Portal de eventos, onde você confere a programação completa de todos os eventos da FEBRAPDP que foram realizados e gravados; participação gratuita em Web-Fóruns Amigos da Terra FEBRAPDP com direito a certificado, e descontos exclusivos em eventos organizados e apoiados pela FEBRAPDP.

A realização do 19º ENPDP é da FEBRAPDP, que conta com a parceria da própria ABAPA, da Associação dos Criadores Gado Oeste da Bahia – Acrioeste, Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA, da Associação dos Produtores de Sementes dos Estados do Matopiba – Aprosem, da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia – FAEB/SENAR/Sindicatos, da Fundação Bahia, do Governo do Estado da Bahia, do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras – SPRB, do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães – SPRLEM, da Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB e da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.