Manejo agrícola deve considerar o sistema e não apenas culturas individuais

Por Gabriel Faria, Embrapa Agrossilvipastoril

Manejo agrícola deve considerar o sistema e não apenas culturas individuais
Foto: Gabriel Faria/Embrapa

A intensificação dos sistemas produtivos traz para pesquisadores, consultores e produtores a necessidade de uma visão completa do sistema e não apenas o olhar individual para cada cultura agrícola. Com esta tônica, foram conduzidas as discussões do I Simpósio sobre Sistemas Intensivos de Produção Algodão Brasileiro, realizado de 9 a 11 de novembro, no Cenarium Rural, em Cuiabá (MT).

 O evento foi promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e contou com participantes presenciais e à distância por meio de transmissão on-line.

 O simpósio contou com sete mesas redondas, sempre com a participação de representantes da pesquisa, da consultoria técnica e do setor produtivo. Eles discutiram o manejo de nematoides, de plantas daninhas, de pragas, de doenças, de pós-colheita, uso de plantas de cobertura e desafios de tecnologias de aplicação. Em cada debate ficou evidente a necessidade de se avaliar todo o sistema antes da tomada de decisão sobre intervenções na lavoura.

 De acordo com os debatedores, em sistemas com culturas intercaladas na safra e segunda safra, a ocorrência de plantas daninhas, pragas e doenças já não está associada somente a uma cultura. Pragas antes específicas de uma cultura, já comprometem as outras. Doenças de uma planta utilizam outra como hospedeira. Nematoides que se multiplicam em um período podem causar danos posteriormente. Da mesma forma, o uso de um defensivo ou cultivar para solução de um problema em uma cultura pode gerar outro na cultura seguinte. A escolha de uma espécie na rotação pode tanto trazer os benefícios esperados, quanto gerar efeitos colaterais indesejados

 “Temos que tomar as decisões antevendo os problemas que virão. É como um jogo de xadrez. Quanto mais conseguirmos prever as próximas jogadas, maiores as chances de vencer o jogo”, exemplificou o pesquisador do IMAmt Jacob Netto.

 Questões como a estratificação química e física do solo, resistência de plantas daninhas e de insetos praga, aumento da importância de pragas e doenças, destruição de restos culturais, bioanálise do solo e regulamentação de bioinsumos foram debatidas nos três dias de simpósio, possibilitando a troca de experiências.

 Para o gerente técnico da ABC Agrícola, Amarildo Padilha, quanto mais conhecimento e mais informações o profissional tem, maiores as chances de tomar as decisões corretas. Citando sua própria experiência, mostrou que mesmo com o planejamento bem-feito, há situações imprevistas que podem mudar o resultado esperado.

 “Se você busca informação nas instituições de pesquisa, estuda, participa de eventos como esse, conversa com outras pessoas que estão no campo e segue os conceitos da agronomia, a chance de errar na decisão é pequena. Mas você tem que ter foco e saber que é esse conhecimento técnico que vai te dar o resultado. Conceitos básicos precisam ser reconhecidos”, ressaltou Amarildo Padilha.

 O investimento em capacitação e no treinamento das pessoas também foi destacado por muitos dos palestrantes como fundamental para que haja uma melhor leitura do sistema, melhor tomada de decisão e também a execução correta da estratégia de manejo definida. Nesse sentido, a produtora Roseli Giachini destacou ainda a importância da boa comunicação dentro da fazenda. De acordo com ela, não adianta haver um bom monitoramento de pragas e doenças se houver ruído na transferência dessa informação para os tomadores de decisão. Da mesma forma, se a orientação não é feita adequadamente para o responsável pela aplicação, a intervenção pode acabar não sendo feita de forma eficaz, causando perdas na lavoura e desperdício de insumos.

 O aumento do custo de produção e a menor disponibilidade de insumos também foram lembrados pelos palestrantes como desafios importantes para o manejo dos sistemas.

 “Em anos difíceis surgem grandes ideias. Vamos passar por um novo cenário, em que insumos que custavam R$ 200, agora custam R$ 300-R$ 400. Brasileiro se adapta a várias situações. Vamos nos adaptar e continuar tendo ótimas safras”, disse o consultor Luiz Henrique Kasuya.

 

Continuidade das discussões

 A iniciativa da realização do I Simpósio sobre Sistemas Intensivos de Produção Algodão Brasileiro surgiu durante um encontro de consultores que atuam na cadeia produtiva do algodão justamente com objetivo de discutir o sistema de produção e não somente a cultura. Programado inicialmente para 2020, o evento acabou sendo adiado duas vezes devido à pandemia.

 A proposta é que o simpósio seja realizado a cada dois anos, sendo intercalado com o Congresso Brasileiro de Algodão.

 Presidente desta primeira edição, o pesquisador da Embrapa Luiz Gonzaga Chitarra considera que o evento superou as expectativas.

 “Acredito que quem participou acompanhou palestras e debates muito relevantes e atuais. Conseguimos atingir uma parte representativa da cadeia produtiva do algodão em Mato Grosso e na Bahia, que são os estados responsáveis por 90% da produção. Foi um grande aprendizado para todos nós”, avalia o pesquisador.

 O I Simpósio sobre Sistemas Intensivos de Produção de Algodão Brasileiro contou com patrocínio da UPL, Bayer, Basf, FMC e Syngenta.