Palestras focam em estratégias para sistemas de produção sustentáveis

Da Redação FEBRAPDP

Palestras focam em estratégias para sistemas de produção sustentáveis
Foto: Kelem Silene Cabral Guimarães/Embrapa

“Todos os agricultores que estão sofrendo na prática as intempéries, as estiagens, o excesso de calor nos últimos meses, estão tendo um impacto negativo na sua produtividade, na sua rentabilidade, na sua sustentabilidade. Então, uma agricultura de baixa emissão de carbono, com certeza vai mitigar, vai ajudar a resolver esses problemas e vai melhorar a performance produtiva e sustentável do produtor”.

A fala acima é de Marco Antônio Davila Fernandes, engenheiro agrônomo e diretor da Sólida Agroconsultoria, que ministrará a palestra no Painel 2 - Estratégias para a Sustentabilidade dos Sistemas de Produção, durante o 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto, que acontecerá entre os dias 9 e 11 de julho, em Luís Eduardo Magalhães, BA. D'Avila abrirá o bloco de palestras cuja primeira parte terá ainda a participação do professor Fernando Andreote, da ESALQ/USP, e de Rodrigo Alessio, engenheiro agrônomo e produtor em Faxinal dos Guedes, SC.

Respectivamente, as palestras serão: Gestão da propriedade visando agricultura de baixa emissão de C, Diversificação na rotação de cultivos e uso de bioinsumos no equilíbrio biológico do solo e Inovações do produtor na racionalização de insumos. Temáticas de fundamental importância para o desafiador momento da agricultura; sobretudo, sob o ponto de vista climático.

Confira abaixo as entrevistas com os três palestrantes, que dão uma visão geral sobre a rica apresentação que farão no dia 10 de julho.

Sobre o palestrante

Marco Antônio Davila Fernandes

Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
MBA em Agronegócio pela FAE Centro Universitário
MBA em Gestão de Agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas – FGV
Sócio-diretor da Sólida Agroconsultoria, de Campos Gerais, PR

Por que o temaGestão da propriedade visando agricultura de baixa emissão de C” é destaque no 19º ENPDP?

Marco Antônio Davila Fernandes: Porque todos os agricultores que estão sofrendo na prática as intempéries, as estiagens, o excesso de calor nos últimos meses, estão tendo um impacto negativo na sua produtividade, na sua rentabilidade, na sua sustentabilidade. Então, uma agricultura de baixa emissão de carbono, com certeza vai mitigar, vai ajudar a resolver esses problemas e vai melhorar a performance produtiva e sustentável do produtor.

 

Como diretamente essa questão atua de forma prática no manejo e na performance produtiva do agricultor?

Marco Antônio Davila Fernandes: Essa questão então tem tudo a ver com as práticas do dia a dia do produtor. Como é que ele faz planejamento da rotação de cultura, das coberturas... culturas de palhada, da colocação de dejetos, da emissão de CO2 através dos... dos tratos culturais, então... a cultura de baixa emissão de carbono tem tudo a ver com... com a prática e o manejo do dia a dia do produtor.

 

Quais os principais pontos abordados durante a sua palestra e o que o espectador terá, ao final da exposição dos conteúdos, incorporado aos seus conhecimentos e poderá levar para sua prática diária na lavoura?

Marco Antônio Davila Fernandes: Os pontos abordados, que tem a ver com a pergunta 1 e 2. Então a gente vai focar na questão da produção de palha, o plantio de milho, né? O milho é um excelente fixador de carbono e ferramentas de altura e de precisão que reduzem a emissão de gases de efeito estufa. Um dos exemplos é o NDVI no trigo, na cevada, no feijão, que reduz a emissão de gases de nitrogênio para a atmosfera. Então ajudando a reduzir os gases de efeito estufa. E vou fazer uma abordagem também sobre os aspectos econômicos, né? A sustentabilidade tem seu viés econômico, então vou fazer uma abordagem sobre o aspecto da sustentabilidade econômica quando você aumenta a produção de palha, aumenta a produção de milho, sobre o impacto que isso vai dar no balanço final do balanço final produtivo do produtor e o balanço final sustentável.

Sobre o palestrante

Fernando Dini Andreote

Professor Titular da ESALQ/USP na área de Microbiologia do Solo
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Microbiologia do Solo da ESALQ/USP
Bolsista produtividade em Pesquisa do CNPq - 1C

Por que a temática “Diversificação na rotação de cultivos e uso de bioinsumos no equilíbrio biológico do solo” é destaque no 19º ENPDP?

Fernando Andreote: É bastante evidente na agricultura a necessidade de trabalhar de forma contínua no melhoramento da qualidade do solo. Dentro desse contexto, o componente biológico tem ganhado destaque nos últimos anos, com o desenvolvimento de práticas que trazem ao solo maior atividade microbiana, maior biodiversidade, e consequentemente maior capacidade de fomentar o desenvolvimento das plantas. É neste escopo que a diversificação de culturas e o uso de bioinsumos atua, gerando no solo um ambiente aprimorado de equilíbrio biológico, o que resulta para o agricultor em cultivos mais eficientes, seja por meio de uma melhor absorção de nutrientes, ou seja por meio do desenvolvimento de um sistema radicular mais exuberante e sadio, o que acarreta diretamente no sucesso de sua atividade.

 

Como diretamente essa questão atua de forma prática no manejo e na performance produtiva do agricultor?

Fernando Andreote: Sabemos que a diversidade de culturas que ocupa um solo tem papel direto na dinâmica da matéria orgânica, fator central de performance da agricultura em solos tropicais. E estamos aprendendo mais recentemente sobre os efeitos dos bioinsumos em aumentar a capacidade do produtor em transformar os insumos em produto final. Desta forma, entendemos que estas práticas influenciam diretamente na capacidade da agricultura em produzir de forma eficiente e sustentável. Ambos os processos podem trazer ganhos aos solos em seus componentes físicos, como a estruturação e a porosidade, componente químico, fomentando uma maior ciclagem de nutrientes, e ao componente biológico, suprimindo patógenos e aumentando a interação entre solos e plantas.

 

Quais os principais pontos abordados durante a sua palestra e o que o espectador terá, ao final da exposição dos conteúdos, incorporado aos seus conhecimentos e poderá levar para sua prática diária na lavoura?

Fernando Andreote: A exposição trará uma mistura de conceitos, desafios e estudos de casos, onde espero demonstrar a importância de o agricultor considerar estas práticas em seu manejo, despertando um olhar holístico sobre o processo de produção agrícola, bem como a incorporação de novos conceitos de qualidade do solo aos ouvintes.

Sobre o palestrante

Rodrigo Alessio

Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Pós-graduado em Gestão empresarial pela FGV
Vice-presidente da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP por Santa Catarina
Produtor rural em Faxinal dos Guedes, SC

Por que a temática “Inovações do produtor na racionalização de insumos” é destaque no 19º ENPDP?

Rodrigo Alessio: Se nós pegarmos o histórico e toda a conjuntura, principalmente das commodities em nível de país, vamos ver que a gente teve incrementos de produtividade ao longo do tempo. E esses incrementos vieram com aumento de custos. Então, essa relação, ela sempre foi muito estreita. O fato é que nós atingimos um platô de produtividade e os custos sempre incrementais, safra após safra. Então, por que de racionalizar? Porque estamos num limiar muito estreito entre lucro e prejuízo. Ainda mais quando se trabalha com produtos, commodities, que o sistema de preço valora, mas não... Você não tem influência nenhuma sobre isso enquanto produtor. Então, você não faz o preço dos seus produtos. Muito dentro desse contexto, o que cabe a nós, enquanto técnicos e produtores, é tentar racionalizar ou tentar dar fundamentos agronômicos mais coerentes, mais inteligentes para equacionar essa questão. Mas como fazer isso? Como racionalizar, como tentar abaixar custo? Para isso, o ponto fulcral, a pedra angular de todo esse edifício que a gente tenta construir é pensar e estimular práticas de sistema que a gente fala, processos. Nunca pensar em uma atividade isolada, em uma prática isolada como uma bala de prata que vai resolver todo esse processo com tão complexo. E, para isso, nós precisamos entender de como funcionam esses sistemas. A dinâmica do fluxo de energia, como é que ela ocorre nisso. Ao invés de comprarmos uma caloria insumada numa ureia, num saco de NPK normal, pagar caríssimo por isso, por que não contar com os serviços do sistema? Com o sol principalmente, que é a nossa principal fonte de energia. Potencializar o máximo de fotossíntese nas nossas plantas, fazer com que a atividade biológica se desenvolva de uma forma potencializada, acelerando a ciclagem de nutrientes... Porque a biologia tem uma lógica que não é uma lógica das ciências matemáticas exatas. A biologia, às vezes, foge desses raciocínios lineares. Quando você tem sistemas complexos interagindo, você tem respostas muito diversas. Então, é importante que a gente entenda esse processo dessa forma para poder introjetar práticas que promovam e desenvolvam a produtividade com sustentabilidade e baixo custo.

 

Como diretamente essa questão atua de forma prática no manejo e na performance produtiva do agricultor?

Rodrigo Alessio: Saindo um pouco do conceito do abstrato e vindo para o lado prático, a gente já tem sistemas dentro dessa visão de processos, de agricultura mais evoluída, que eu sempre digo, uma visão mais holística do sistema, a gente já tem bases bem dadas, em nível de país, de agricultura tropical. O SPD é uma ferramenta que é base de todo esse conjunto de práticas. Porque uma vez seguindo à risca as diretrizes do sistema, você vai potencializar ao máximo possível os serviços ecossistêmicos que a gente tanto quer. Você vai potencializar, por exemplo, a captação de energia solar, que por sua vez vai introjetar carbono no solo. Parte desse carbono vai servir de alimento para micro-organismos que vão acelerar os processos bioquímicos, que vão nutrir a sua planta de uma forma muito mais equilibrada e muito mais interessante. Você tem todo um hall de bioinsumos hoje sendo produzidos e multiplicados, sejam por empresas, sejam a nível de produtor ou on-farm, que nos ajudam a estimular esses processos. Você inunda biologicamente com organismos benéficos o teu sistema, devolvendo, resgatando essa diversidade também biológica. Você tem hoje plantas de serviços que são extremamente importantes, que vão orquestrar toda uma estruturação de solo com raízes diferentes, com funções de raízes diferentes, solubilizando fósforo, incorporando nitrogênio de forma gratuita, ciclando potássio, trazendo parasitas benéficos que vão ajudar no controle e equilíbrio de insetos-pragas. Então, todo um conjunto de ferramentas a gente já tem. Cabe entender cada situação, ter o diagnóstico correto de cada realidade. O nosso país é um país continental que tem diferenças muito, muito grandes. São biomas muito diferentes. Saber quais são as especificidades, quais são os ajustes que a gente tem que fazer. Essa é a inteligência nossa, a inteligência enquanto agrônomos, inteligência enquanto biólogos. E fazer essa fina sintonia, esse ajuste, conseguir trazer uma rentabilidade, trazer equilíbrio para o sistema, trazer uma sustentabilidade. E acima de tudo, o sistema de preços, por mais eficiente que seja o sistema capitalista hoje, ele tem uma inteligência em termos de alocação de recursos e criação de valores, mas ele não consegue captar as externalidades negativas de um sistema mal manejado ainda, ele tem deficiências, e nem a capacidade de um sistema bem manejado, o quanto de CO2 ele mitiga, o quanto de CO2 ele incorpora no solo, o quanto de benefícios ele traz para a sociedade como um todo, para o ambiente como um todo. Então temos que pensar nisso para frente como fazer, como essas métricas vão ser estabelecidas, porque o sistema hoje como ele está, por mais sofisticado que seja, ele não consegue valorar, precificar esses benefícios que a gente tem uma vez manejando com essas práticas, fazendo uso dessas práticas mais conservacionistas.

 

Quais os principais pontos abordados durante a sua palestra e o que o espectador terá, ao final da exposição dos conteúdos, incorporado aos seus conhecimentos e poderá levar para sua prática diária na lavoura?

Rodrigo Alessio: Eu espero tratar sobre este aspecto de voltar às bases, aos fundamentos da agricultura, pensar nos sistemas, no reequilíbrio biológico, estimular esse reequilíbrio. Muitas vezes, a grande maioria das áreas está em desequilíbrio. Então, o erro de diagnóstico é muito comum, você vai aplacar um desequilíbrio gerando mais desequilíbrio, colocando mais produto, insumando mais, compactando quimicamente o solo. Então, procurar atentar para esses aspectos, às vezes fazer uma ciência reversa, buscar as causas desse desequilíbrio, tentar mitigar isso da melhor forma, da forma mais inteligente e menos impactante possível, trazer um pouquinho da nossa experiência enquanto produtor. Falar sobre o que a gente tem feito, a utilização de bioinsumos, de remineralizadores, produção de nosso próprio fertilizante, as misturas com fontes menos solúveis e mais baratas, enfim, uma série de práticas que já não é, digamos, mistério para ninguém, mas que é importante que a gente repise e reforce e mostrar um pouquinho dos resultados que a gente vem obtendo ao longo desse período. E acima de tudo, atentar o pessoal para a importância de nós darmos essa resposta ao mundo. O Brasil é um país continental, ele tem condições de fazer toda a diferença nessa tratativa de mudança global, de mitigação dos efeitos de CO2 e a nossa agricultura tem um papel fundamental nesse processo, acho que é um país único com as características, com a abundância de recursos que a gente tem, é um país único e tem condições de dar a plena resposta ao mundo, mostrando como realmente se faz uma agricultura regenerativa, uma agricultura que preserva e que produz de uma forma bastante racional.

 

Inscrições e associação à FEBRAPDP

Para participar do 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto e ter acesso aos benefícios de associado, que incluem descontos nas inscrições, basta associar-se à FEBRAPDP (link também disponível no site de inscrição do evento). Dentre os benefícios de ser um associado estão: o certificado exclusivo de associado FEBRAPDP; acesso ao Portal de eventos, onde você confere a programação completa de todos os eventos da FEBRAPDP que foram realizados e gravados; participação gratuita em Web-Fóruns Amigos da Terra FEBRAPDP com direito a certificado, e descontos exclusivos em eventos organizados e apoiados pela FEBRAPDP.

A realização do 19º ENPDP é da FEBRAPDP, que conta com a parceria da própria ABAPA, da Associação dos Criadores Gado Oeste da Bahia – Acrioeste, Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA, da Associação dos Produtores de Sementes dos Estados do Matopiba – Aprosem, da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia – FAEB/SENAR/Sindicatos, da Fundação Bahia, do Governo do Estado da Bahia, do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras – SPRB, do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães – SPRLEM, da Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB e da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.