Plantas a serviço de uma agricultura mais produtiva e mais sustentável
Da Redação FEBRAPDP

Nesta quinta-feira, 28 de novembro, a partir das 20h, no Canal do Ronaldo Trecenti, no YouTube, Marcelo Ayres, pesquisador da Embrapa Cerrados, que está à frente de uma ampla pesquisa para conhecer melhor a realidade da relação entre os produtores e as plantas usadas na cobertura do solo, e Ademir Calegari, consultor, ex-pesquisador e um dos maiores especialistas mundiais no tema, falarão ao vivo sobre o assunto. A moderação do encontro ficará a cargo do próprio Trecenti, engenheiro agrônomo, professor e consultor.
As plantas de cobertura são tão importantes para a agricultura que estão tendo sua denominação alterada para plantas de serviço. E não são poucos estes serviços que prestam, sejam nos aspectos físicos, químicos ou biológicos do solo. Dentre os muitos, podemos citar alguns: controle de pragas e doenças de solo, atração de insetos benéficos e polinizadores, fixação de nitrogênio em leguminosas, ciclagem de nutrientes, fixação de carbono, aumento da atividade microbiológica no solo, redução da temperatura do solo, maior retenção de água no solo... Essa importância é tão grande que a Embrapa vem trabalhando no aprofundamento das informações sobre as diferentes realidades de uso dessas plantas por parte dos agricultores brasileiros. O objetivo é o direcionamento de políticas públicas e de incentivo que tornem nossa agricultura ainda mais sustentável; políticas essas com bases na colaboração que os serviços prestados por essas plantas são capazes de oferecer. Para assistir à live acesse: https://encurtador.com.br/Jfvik.
É importante destacar também que o prazo para a participação na pesquisa agora vai até o dia 15 de dezembro. Quanto maior o número de produtores que a respondam, maior a amplitude e acuidade dos resultados alcançados. Para participar da pesquisa, acesse o link para o questionário: https://bit.ly/489gAoZ.
Confira a seguir a entrevista que Ayres nos concedeu.
No próximo dia 15 de dezembro, acaba o prazo para que os produtores brasileiros respondam a pesquisa que a Embrapa, por intermédio do senhor, vem desenvolvendo sobre plantas de cobertura. Qual a importância da participação do maior número possível de produtores nessa pesquisa, que faz parte do projeto Fertilize 4 Life?
Marcelo Ayres - Essa pesquisa de opinião vai contribuir para termos uma estimativa do nível de adoção dessa prática no país, entender os critérios usados para tomada de decisão sobre seu uso, avaliar o nível de conhecimento dos agricultores sobre seus benefícios e identificar as dificuldades e os gargalos para a sua expansão.
Para nós, essas informações são importantes para orientar políticas públicas e ainda dar foco para novas pesquisas que resultem em novas cultivares e ainda no desenvolvimento de práticas agrícolas que possam reduzir as dificuldades de manejo nos sistemas de produção em todo o país. A partir desses resultados também poderemos direcionar ações de divulgação e transferência de tecnologia mais focados nos gargalos de conhecimento e nas dificuldades operacionais do setor produtivo, identificadas por meio dessa pesquisa de opinião.
A pesquisa tem despertado grande interesse e por essa razão estamos aumentando o período para receber contribuições até o dia 15 de dezembro, inicialmente seria encerrado no dia 30 de novembro.
O senhor pode falar um pouco sobre a pesquisa? O que é o Fertilize 4 Life? Qual a premissa inicial? A partir de que demanda ela se faz necessária e o que se espera verificar para, mais adiante, se fomentar? O que os resultados nos anos que vem sendo realizada nos EUA revelam?
Marcelo Ayres - O Programa Fertilize 4 Life é uma iniciativa para promover a cooperação científica multinacional entre o Brasil e os Estados Unidos da América, por intermédio da Universidade da Flórida (UF/IFAS), do Serviço de Pesquisa Agrícola do USDA (ARS), do Centro Internacional de Desenvolvimento de Fertilizantes (IFDC), do USDA Foreign Serviço Agrícola (FAZ/USDA) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para estimular a colaboração e a pesquisa entre esses países para o uso eficiente e eficaz de fertilizantes.
O Programa possui quatro projetos de pesquisa focados nos seguintes temas:
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Agricultura de precisão, ‘big data’ e inteligência artificial
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Produtos biológicos, biologia do solo e saúde do solo
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Desenvolvimento de novos fertilizantes e bioestimulantes
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Uso mais eficiente das fontes de nutrientes existentes pela adoção de plantas de cobertura e sistemas de integração lavoura e pecuária (ILP)
No tema 4, uma das atividades é a realização da pesquisa de opinião sobre adoção de plantas de cobertura nos sistemas agrícolas. Essa sondagem vem sendo realizada nos USA há mais de 15 anos, com os resultados apresentados no National Cover Crop Survey Report. Os resultados do último relatório publicado em 2023 destacam os seguintes pontos:
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Cerca de 800 agricultores responderam à pesquisa, com idade média de 59 anos;
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Os respondentes estão distribuídos em 49 estados e cultivam ampla variedade de culturas comerciais;
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Nove em cada dez deles eram os tomadores de decisão em suas fazendas;
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Os usuários da tecnologia plantaram em média 413,6 acres de culturas de cobertura em 2022, um aumento que vem sendo constante desde os cinco anos anteriores;
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Não usuários relataram interesse em reduzir o uso de insumos pela utilização das plantas de cobertura (70% de concordância), mas foram dissuadidos da adoção principalmente por preocupações sobre o retorno econômico (selecionado por 60% de uma lista de barreiras à adoção), seguido por preocupações com reduções de rendimento das culturas comercias em sequência ao uso das plantas de cobertura;
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Não usuários gostariam muito de receber informações sobre questões relacionadas aos custos da utilização das plantas de cobertura, bem como em relação ao impacto econômico sobre os cultivos comerciais (63%). Adicionalmente, responderam que o pagamento de incentivos (59%) seria um fator importante para utilizar essa prática agrícola.
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Mais da metade (52%) dos produtores de milho não relataram nenhuma mudança nos custos com fertilizantes após, pelo menos, três anos de uso de plantas de cobertura, e o segundo maior grupo, 21%, disse que poupou mais de US$ 20 por acre em nutrientes com o milho após o uso de plantas de cobertura.
Acredito que a pesquisa chega em um momento em que o interesse pelas plantas de cobertura cresce, à medida que o sistema de plantio direto no Brasil vem sendo mais adotado. A Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto definiu que o seu 20° Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP, que será realizado em 2026, terá como tema central as plantas de cobertura, o que consolida essa ideia.
Essas práticas fazem parte dos compromissos brasileiros para combate e mitigação das mudanças climáticas globais, fazendo parte de importantes políticas públicas, como o Plano ABC+. Será importante verificar as similaridades e as diferenças entre a avaliação do uso dessa prática entre os produtores estadunidenses e brasileiros, mesmo considerando as grandes diferenças observadas entre os agricultores dos dois países.
Motivações agronômicas, de manejo, climáticas, econômicas, entre outras costumam caracterizar o espectro de obstáculos nas relações entre os produtores rurais das mais diferentes regiões com as plantas de cobertura. A que se deve essa multiplicidade de resistências ao seu emprego uma vez que todos os resultados sejam nas lavouras experimentais ou comerciais apontam benefícios bem consistentes? Seria correto supor que a pesquisa busca entender também as subjetividades dessas relações?
Marcelo Ayres - Considerando as dimensões continentais do nosso país, as diferentes ofertas ambientais encontradas nas áreas de produção agrícola, além das diferenças regionais, a implantação de qualquer tecnologia se torna bastante complexa. Por essa razão, o foco da pesquisa de opinião são os produtores e os gerentes agrícolas, ou seja, os verdadeiros usuários dessa prática. Entender suas dores e os que os leva a adotar uma tecnologia é muito importante para nós, que temos outra perspectiva dela. Cada agricultor é único, assim como cada propriedade também é.
É preciso considerar que os agricultores operam com sua lógica própria. Em algumas situações essa lógica pode ser diferente da lógica do técnico. É preciso também considerar que adaptações e ajustes podem e devem ser realizados quando um resultado de pesquisa sai da estação experimental e vai para o meio real. A inovação acontece no campo, quando o usuário faz esses ajustes e adaptações, que vão adequá-la à sua realidade.
Compreender essa lógica pode oferecer à pesquisa e aos agentes de difusão e transferência de tecnologia a oportunidade para facilitar esses ajustes necessários nessa prática agrícola. Quem sabe, com a ajuda dos próprios agricultores, poderemos desenvolver no futuro soluções específicas para cada região/município/propriedade/talhão (Site Specific Solutions).
Como a pesquisa realizada nos USA demonstrou, existe uma grande preocupação com os custos econômicos ao se adotar essa prática. Adicionalmente, a complexidade operacional também aumenta, o que também pode impactar nos custos. Acredito que precisamos demonstrar que também existem muitos benefícios, alguns que só serão observados a médio ou longo prazo, ou seja, não podemos focar apenas em uma safra. É preciso focar nos ganhos para o sistema como um todo, a tão propagada sustentabilidade.
De qualquer forma o emprego das coberturas vegetais já pode ser encarado hoje como uma decisão estratégica para uma agricultura amplamente sustentável, certo? Quais suas efetivas contribuições para lavouras mais eficientes produtivas quantitativa e qualitativamente falando?
Marcelo Ayres - Dentro dessa lógica de alterar a visão para uma lógica de sistemas, existem alguns especialistas que têm sugerido que a denominação plantas de cobertura não seria a denominação mais adequada para se referir a essas plantas. O termo mais adequado seria plantas de serviço, pois elas oferecem diversos serviços. Por exemplo:
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Controle de pragas e doenças de solo;
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Atração de insetos benéficos e polinizadores;
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Fixação de nitrogênio (no caso das leguminosas);
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Ciclagem de nutrientes;
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Fixação de carbono;
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Aumento da atividade microbiológica no solo;
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Redução da temperatura do solo;
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Maior retenção de água no solo.
Nesse sentido, sabemos que o uso dessa prática pode contribuir para a provisão de diversos serviços ambientais.
Nesta quinta-feira, 28, às 20h, o senhor participará da Live ILPF sobre plantas de cobertura, na qual, juntamente, com o pesquisador e consultor Ademir Calegari, um dos maiores nomes mundiais quando o assunto é plantas de cobertura, trata-se de uma boa oportunidade para os interessados conhecerem mais profundamente o tema. Por que assistir à live?
Marcelo Ayres - Antes de mais nada gostaria de agradecer ao Ronaldo Trecenti por me convidar para essa live no seu canal do YouTube e também à Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto, que tem dado um grande apoio na divulgação da nossa pesquisa. Estar ao lado do professor Calegari será uma grande honra, ele que é uma das maiores referencias mundiais em plantas de cobertura.
Sou um melhorista de forrageiras tropicais que foi levado a explorar o uso dessas plantas nos sistemas agrícolas pelo grande interesse e uso das cultivares desenvolvidas pela Embrapa, principalmente em sistemas Integração Lavoura-Pecuária (ILP). No entanto, não sou especialista em ILP, plantio direto e plantas de cobertura. Mas confesso que a cada dia tenho aprendido muito com todas as pessoas com quem tenho interagido e que trabalham nessa área. Tenho encontrado pessoas muito generosas que têm compartilhado seus conhecimentos e experiências comigo.
Meu grande objetivo na live dessa quinta-feira é continuar aprendendo sobre o uso de plantas de cobertura nos sistemas agrícolas, contribuir para ampliar sua adoção à medida que o plantio direto ganha mais espaço entre os agricultores. Também pretendo apresentar nossa pesquisa de opinião sobre essa tecnologia e solicitar o apoio dos produtores rurais para compartilhar suas ideias e sentimentos. A partir das opiniões coletadas, pretendemos ajudá-los a resolver as questões que dificultam a adoção das plantas de cobertura e melhorar os resultados da agricultura brasileira.