Semeadura direta do algodão incrementa carbono no solo

Por Dalmo Oliveira da Silva, Embrapa Algodão

Semeadura direta do algodão incrementa carbono no solo
Pesquisas da Embrapa demonstram que os estoques de carbono no solo podem aumentar 50% em até cinco anos - Foto: Edna Santos/Embrapa Algodão

Os participantes da 70ª reunião ordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), ocorrida na última quarta-feira, 01, receberam uma boa notícia sobre os sistemas de produção de algodão com baixa emissão carbono, que a Embrapa vem pesquisando. É que solos argilosos e arenosos do Cerrado, quando deixam de ser preparados com arados e grades, e passam a ser cultivados em manejo de semeadura direta (sistema plantio direto – SPD), visando a produção de algodão, apresentam altas taxas de incremento de carbono, muito superiores à taxa sugerida pela iniciativa internacional “4per1000” para a redução dos gases de feitos estufa.

A excelente novidade foi dada pelo pesquisador da Embrapa Algodão, Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, que conduz experimentos nessa área linha de pesquisa há cerca de quinze anos em solos argilosos de Goiás e 11 anos em solos mais arenosos na Bahia.

Além disso, os dados da Embrapa indicam ganhos de produtividade do algodão em relação aos sistemas com preparo convencional do solo: “Nossos dados mostram que se pode acrescer entre 10 e cerca de 16 arrobas/ha de fibra nos sistemas de plantio direto. Não revolver o solo é o segredo principal para isso”, afirma Ferreira, que possui resultados sistemáticos de experimentos de campo, estudando sistemas de manejo do solo e de produção de algodão no Cerrado.

Falando para uma plateia muito seleta de representantes dessa cadeia do Agro brasileiro, o pesquisador fez um discurso muito convincente na perspectiva de que os cotonicultores só têm a ganhar ao investirem na adoção de práticas e tecnologias que visam a saúde e a qualidade do solo, garantindo maior segurança produtiva, melhor fertilidade do solo e, naturalmente, maior produção de algodão. 

O incremento do estoque de carbono no solo também abre outra possibilidade para o agricultor: “Estamos falando sobre créditos de carbono, tema cada vez mais em pauta no Brasil e no Mundo”, ressalta Ferreira.

Ele lembrou que desde o início da década de 70 até a atualidade, a população mundial praticamente dobrou, exigindo, entre outras coisas, mais roupas e alimentos. Porém, para satisfazer essa crescente demanda, foi preciso produzir ao mesmo tempo em que a população urbana brasileira aumentou substancialmente, em detrimento da rural. 

Alexandre acha que a agricultura precisa passar a ser entendida como parte da solução e não apenas como o único gerador do problema, relacionado ao aquecimento global. As pesquisas que sua equipe vem conduzindo, por exemplo, visam estudar sistemas agrícolas de produção de algodão que, além de muito produtivos, possam aumentar o estoque de carbono no solo, sendo essa uma estratégia de mitigação dos efeitos do acúmulo de CO2 na atmosfera, que é um gás de efeito estufa. 

Segundo o cientista da Embrapa, adubação adequada e a conservação da palhada sobre o solo são estratégias tecnológicas importantes, não somente para a produção agrícola, mas também para estabilizar e reter o carbono no solo, enquanto que o revolvimento do solo pode aumentar significativamente a perda de carbono pela oxidação de matéria orgânica e pela erosão do solo. “A cotonicultura brasileira, por meio de práticas agrícolas de conservação do solo, pode contribuir com as políticas mundiais de produção agrícola com baixa emissão de carbono, concomitante com a obtenção de altas produtividades”, afirma.

Agro sustentável

Fernando Pimentel, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), também trouxe informações estratégicas à reunião. O setor estima crescimento de 2,3%, gerando algo em torno de 8,7 mil empregos diretos, mesmo tendo registrados nos últimos 12 meses uma queda nas exportações de -28,09%. Já a indústria têxtil recuou  -12%. 

Pimentel disse que o consumo ficou “patinando” e que o setor de vestuário cresceu apenas +6,8%. Uma preocupação extra continua sendo o e-comercio internacional, aumentando livre de qualquer taxa de imposto. No período alcançou no Brasil algo em torno de R$ 8 bilhões e cerca de 2 milhões de peças comercializadas. Fernando, entretanto, destaca o crescimento nítido de uma janela forte para as fibras naturais sustentáveis.

Ele trouxe para a reunião boas perspectivas para o algodão agroecológico, com destaque para o algodão naturalmente colorido. Fernando afirma que os processos de certificação (ZDHC, GOTS e OEKO-TEX) continuam em expansão, bem como a adoção de boas práticas definidas no protocolo ESG.

Há também novas janelas de oportunidades para as fibras químicas com menos tempo de biodegradação, de fibras produzidas com o mínimo de descarte de subprodutos e de fibras à base de fungos e algas, além de utilizações crescentes dos chamados “desfibrados”. Fernando Pimentel diz que o conceito que deve crescer rapidamente é o das cadeias de fornecimentos responsáveis, onde todos os envolvidos assumem seu quinhão na responsabilidade ambiental.

A reunião tratou ainda do andamento da Safra 22/23, com um panorama trazido por representantes das associações estaduais de produtores de algodão. Ocorreu ainda uma apresentação sobre a questão da rastreabilidade do algodão brasileiro feita por Silmara Ferraresi, da ABRAPA.

A associação tem uma perspectiva de produção de 3 milhões de toneladas nesta safra, mesmo com os produtores admitindo que também será a safra com maior custo da história. Há uma expectativa boa de que o Brasil se iguale ou ultrapasse o maior produtor mundial (EUA) proximamente, que sofreu uma redução de 20%, tendo o Texas praticamente abandonado o cultivo da fibrosa.

A Câmara tem nova reunião agendada para o dia 30 junho.