Sistema atualizado para enfrentar as chuvas

Da Redação FEBRAPDP

Sistema atualizado para enfrentar as chuvas
Foto: Divulgação IDR-Paraná

Durante setembro e outubro, o Estado do Paraná recebeu uma quantidade de chuvas muito superior às médias históricas do período. Só no último mês foram 360mm contra 191mm. No município de Pato Branco, por exemplo, chegou a 652,8mm em outubro. Porém, em meio aos naturais transtornos decorrentes de tal magnitude pluviométrica, um bom indicativo se apresenta: a capacidade de suporte dos solos bem estruturados que as lavouras sob Sistema Plantio Direto (SPD) vêm demonstrando. Performances surpreendentes até mesmo para Franke Dijkstra, um dos pioneiros do SPD no Brasil.

“É fantástico! Que progresso!” Do alto de seus mais de 40 anos de experiência em plantio direto, essas são algumas das expressões que Dijkstra usa ao expressar a alegria, orgulho e a surpresa pela resposta que hoje o solo dá às chuvas volumosas e muito concentradas. “No passado, quando usava o plantio convencional, chegava a perder toda a camada mais superficial do solo, que era lixiviada e levada rio abaixo. Hoje, assisto a muitas nascentes surgindo em meio à lavoura, o que é natural dado o grande volume de água, mas o que mais chama a atenção é que todos esses afloramentos estão minando água limpa, sem sedimentos de solo; ou seja, sem erosão. Uma realidade que já foi muito comum nas lavouras do estado, quando as lavouras convencionais eram predominantes, está sendo transformada”, vibra o pioneiro.

Usando o sistema em toda a sua propriedade, a famosa Fazenda Frankanna, no município de Carambeí, PR, Dijkstra convive com resultados altamente produtivos e sustentáveis, ainda assim se diz surpreso, inclusive, pelo comportamento nas áreas onde faz silagem, que possuem pouca palha, e integração lavoura-pecuária (ILP), onde a massa também é reduzida. Segundo ele, a experiência deste ano é superior as já testemunhadas em anos anteriores diante de situações até menos intensas. Em algumas áreas da fazenda, por exemplo, os índices pluviométricos chegaram a bater 125mm em um único dia.

“Já passei por vários períodos de chuvas excessivas, e o que constato é que, de forma cada vez mais consistente, a capacidade de absorção de água pelo solo está aumentando. Os anos sucessivos em SPD estão servindo para potencializar de modo crescente uma maior granulação da terra, o que eleva a capacidade de infiltração de água no solo”, afirma.

Precipitação média (mm) registrada em outubro de 2023 nas regiões do Paraná - Fonte: IDR-Paraná e Simepar. *RMC - Região Metropolitana de Curitiba

Imprevisibilidade

Pablo Nitsche, pesquisador em Agrometeorologia do IDR-Paraná, explica que a forte concentração das chuvas mostrada nas imagens abaixo é, certamente, resultado da presença do evento El Niño este ano. No entanto, a magnitude de seu efeito sempre é imprevisível e tem surpreendido também os especialistas. Tanto em setembro quanto em outubro de 2023 os volumes de chuvas superaram as médias históricas, principalmente na região Oeste/Sudoeste do Paraná.

“A variabilidade das chuvas é um evento normal. Chuvas acima de 400 ou 500mm em um mês estão presentes ao longo da série histórica em diversos locais do estado. No entanto, o que percebemos ao longo dos últimos anos é o aumento dos eventos extremos, principalmente de chuvas intensas e ondas de calor, gerando impactos de diversas formas. Nas lavouras, especificamente, um dos destaques, sem dúvida, são os efeitos erosivos nos solos paranaenses”, diz ele.

Ainda segundo Nitsche, lavouras em sistema de plantio convencional são em menor área no estado. Inclusive, em Sistema Plantio Direto são poucas as áreas que respeitam os três pilares do sistema. O que temos são lavouras em semeadura direta. Neste caso, quão melhor foram as práticas realizadas pelos produtores no estabelecimento de condições de cobertura do solo, de melhorias nas condições físicas, da manutenção de terraços de qualidade, menor foram os impactos das chuvas ao longo das últimas semanas”.

Atualização

No final das contas, o que se torna mais evidente é que, mesmo com a imprevisibilidade climática, o SPD atua para desempenhar papel importante na diminuição do desequilíbrio natural. Neste caso específico, trabalhando para evitar a erosão e toda a fieira de desdobramentos danoso que ela é capaz de desenrolar.

Dijkstra faz questão de destacar o significado presente nas imagens, muito divulgadas na internet, das Cataratas do Iguaçu recebendo o grande volume de águas provenientes dos rios de todo o Paraná. Este ano, segundo ele, já não se vê águas tão barrentas quanto já foram no passado. “Isso é um indicativo de que o solo das lavouras não está sendo erodido. É um efeito prático e visível de um dos benefícios que o SPD proporciona para uma agricultura cada vez mais sustentável”, celebra ele.

“Agora que estou aposentado, estou chegando à conclusão de que preciso atualizar o livro que escrevi. Com o passar do tempo, venho percebendo as novas perspectivas que os efeitos dos anos sucessivos em Sistema Plantio Direto vão agregando. Chegam a ser até surpreendente mesmo para quem já está há tanto tempo no sistema. É muito gratificante ver essa estabilidade que a gente conseguiu”.