SPD no Pará: produtividade é argumento convincente

Da Redação FEBRAPDP

SPD no Pará: produtividade é argumento convincente
Bazílio Wesz Carloto - Foto: Arquivo pessoal

Para o vice-presidente da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP no Estado do Pará, Bazílio Wesz Carloto a melhor forma de convencer produtores estaduais a aderirem ao Sistema Plantio Direto de forma plena é através dos fatos. A apresentação dos números e dos resultados advindos do sistema é capaz de evidenciar as vantagens do modelo conservacionista, dando conta de incrementos de produtividade, com redução nos custos de produção, sustentabilidade e, por conseguinte, maior lucratividade.

Carloto, que também é produtor rural, proprietário da Fazenda Rio Grande, em Paragominas, PA, e diretor-presidente da Cooperativa Agroindustrial Paragominense – Coopernorte, explica na entrevista a seguir como o SPD vem sendo recebido no Pará, onde boa parte das terras agricultadas são relativamente novas e ainda precisam ser preparadas para a implantação do sistema. Concomitantemente ao trabalho agronômico da adequação das terras, faz-se também um trabalho de superação das resistências de produtores que ainda percebem o SPD como algo difícil de ser feito.

 

Pergunta: Quais as estimativas de áreas sob PD de forma parcial e de áreas sob o SPD de forma integral?

Resposta: O Pará ainda é um estado muito novo em termos de tempo de convívio com a agricultura de larga escala. Principalmente, quando falamos do polo de Paragominas, que inclui também municípios como Ipixuna, Ulianópolis, Dom Eliseu, Rondon do Pará, Abel Figueiredo, Açailândia e Tailândia; realidade que se aplica também a Santarém, que já é fora do polo de Paragominas. Temos uns 27 anos aqui, e foi justamente nessa época que vim para cá a fim de desenvolver a agricultura. Por serem muito novas, as terras da região ainda se encontram cobertas com juquira (vegetação que nasce em áreas de plantio ou pastos abandonados) ou pastos degradados originários da época da abertura das áreas. Têm muito toco ainda, remanescente de toras e raízes. O solo ainda está muito despreparado, muito desuniforme, o que cria a necessidade de preparação e sistematização deste o solo através da limpeza da área e da questão da correção de seu perfil. É algo que leva tempo. Quando você com a agricultura sob o SPD, isso precisa acontecer de forma definitiva. Para isso, o solo precisa ficar bem preparado e não se voltar mais ao sistema convencional. Essa adequação é uma das explicações para o baixo percentual de adesão ao SPD na maioria das áreas aqui da região. As áreas de com SPD de forma integral por aqui ainda são muito poucas. Apenas eu e alguns outros poucos produtores mais tecnificados conseguimos fazer, inclusive já utilizando até mixes de plantas.

 

P: Na sua opinião há outros entraves atrapalhando essa adoção mais plena do SPD?

R: Nós tivemos também outro entrave que foi quando o SPD começou. E ele começou muito bem, usando muita cobertura com braquiária e a cultura do milho. No entanto, houve uma época em que o preço do milho estava muito ruim e o pessoal começou a plantar muita soja, deixando de lado a integração do milho com a braquiária, tornando mais difícil de se fazer cobertura com a gramínea. Nesse meio tempo, houve o aparecimento da soja louca 2, que ocorre muito em áreas de pousio, exatamente onde estava a braquiária. O pessoal passou a atribuir soja louca 2 à braquiária, o que fez com que os produtores acabassem regredindo no sistema porque acreditavam que a braquiária seria a responsável pela doença na soja. Com o tempo a gente demonstrou que não havia relação. A questão estava no manejo, requerendo uma dessecação feita com bastante antecedência, semeadura sem plantas verdes e uso de nematicidas, de abamectina e acaricidas, medidas que funcionaram muito bem contra a soja louca 2. Hoje o pessoal está sabendo que não é mais a braquiária e sim manejo que resolve esse problema.

 

P: Na sua opinião, qual o principal desafio a ser vencido para reversão deste quadro?

R: Nós aqui estamos fazendo um trabalho para mostrar de forma concreta, por intermédio de muitas palestras como é feito esse trabalho e mostrando os resultados. Eu mesmo mostro como venho fazendo para obter excelentes resultados. Este ano, por exemplo, minha produtividade atinge por hectare médias de 96 sacas de soja e de 175 sacas de milho sob SPD. Se você faz o sistema e mostra que é responsivo, que dá resultados em termos de produtividade e lucro, as pessoas vão acatando e vão aderindo ao sistema. Há também a questão da diminuição de custos associada ao aumento da produtividade. Então mostra mais lucratividade e é isso que nós estamos trabalhando para apresentar aos produtores. Fazemos dias de campo, visitas às propriedades fazendo para mostrar a importância do SPD, além da preservação do solo que é fundamental, a descompactação, não deixar compactar o solo, evitar a erosão; enfim as várias vantagens do plantio direto.

 

P: A partir da missão da Federação de tornar o SPD ainda mais adotado, valendo-se, inclusive, da capilaridade dos estados, como especificamente no seu estado esse esforço será feito? Já existem ideias, projetos, estratégias para essa tarefa?

R: Estamos fazendo vários trabalhos e procurando mostrar isso a campo. Ao mesmo tempo buscando aproximar mais a FEBRAPDP do nosso Estado. O Pará um é estado meio longínquo, então fica mais difícil, mas o principal trabalho é mostrar a importância da Federação e mostrar que tem profissionais que podem ajudar muito nesse sentido.

 

P: Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre a sua percepção pessoal, de como vê e sente o engajamento/interesse dos produtores estaduais em se envolverem ou apenas ouvirem orientações técnicas que proponham essa mudança para a adoção mais integral do SPD.

R: Como em todas as áreas, no setor produtivo também há pessoas mais receptivas e pessoas mais resistentes às mudanças, principalmente, os produtores mais antigos. Para esses casos, nós procuramos mostrar os efeitos que eles estão tendo em suas áreas, sobretudo quando o declínio da produtividade começa a se manifestar. E quem está adotando o SPD está ascendendo sua performance produtiva e gerando essas discussões. Daí, eles acabam vendo os resultados, uns acabam aderindo ao sistema mais rápido, enquanto outros não. Em geral, sob a alegação de que o SPD é muito difícil cultivar, que o plantio convencional é mais fácil. Mas com o tempo eles vão vendo as vantagens da relação custo-benefício do SPD.