SPD no Paraná: um futuro sustentável e promissor

Da Redação FEBRAPDP

SPD no Paraná: um futuro sustentável e promissor
Daniel Rosenthal - Foto: Reprodução vídeo Congresso Aapresid

Um dos principais desafios para o Sistema Plantio Direto está além dos aspectos técnicos e econômicos. É o de ser compreendido e adotado como um sistema, exatamente como o é em sua amplitude. Trata-se de uma bandeira levantada há décadas pela Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto – FEBRAPDP em sua missão de difundir Brasil afora a técnica conservacionista e seus três pilares centrais – rotação de culturas, cobertura permanente e não revolvimento do solo. De acordo com o presidente da Federação, Jonadan Ma, as estimativas dão conta de que em 36 milhões de hectares das terras agricultadas no país, de alguma forma, o plantio direto está presente; porém, em cerca de apenas 15% dessa área, seja exercido integralmente.

A recém-empossada nova diretoria da FEBRAPDP (veja aqui o quadro completo), que conta com Ma à presidência, tem como uma de suas mais importantes missões justamente a proposta de atacar mais duramente tal contexto. Para essa missão, as 15 vice-presidências (14 estados e Distrito Federal) serão estratégicas por representar capilaridade. Em outras palavras, a Federação espera valer-se desses múltiplos braços, espalhados pelas principais regiões produtoras do Brasil, para alargar os percentuais de uso do SPD em cenários e contextos diferentes.

Por esta razão, a partir desta semana, começaremos uma série de entrevistas com os vice-presidentes da Federação em cada um dos estados. A ideia é compor um mosaico onde são apresentadas as diversas realidades que compõem o Brasil do Sistema Plantio Direto, com suas forças e desafios. Nesta primeira entrevista, conversamos com Daniel Rosenthal, vice-presidente da FEBRAPDP no Paraná. Ele é engenheiro agrônomo e produtor rural no município de Rolândia, PR.

P: Segundo o presidente da Federação, Jonadan Ma, o principal desafio e uma das ideias centrais desta atual gestão é aumentar as áreas que adotam o conceito do SPD em toda sua amplitude, respeitando os três pilares básicos. Neste sentido, gostaria de tratar aqui da realidade do SPD no Paraná. Quais as estimativas de áreas sob plantio direto de modo parcial e de áreas sob o SPD de forma integral?

R: O Paraná tem uma área de 19,99 milhões de hectares, sendo que 6,4 milhões são lavouras. É difícil mensurar de quanto isso está sob o SPD mas com certeza a maior parte está sob PD. A justificativa da adoção do SPD apenas parcial precisa ser entendida por alguns fatores:

A) Estrutura fundiária: 85% das 305.000 propriedades têm menos de 50 hectares. Sendo assim, estes proprietários para, supostamente, tirar o máximo proveito econômico, fazem uso da sucessão soja no verão e milho no inverno (norte e oeste do Estado);

B) Muitos são arrendatários e têm pago valores que facilmente ultrapassam 20/25 sacas de soja/ha. Com esses valores são inviáveis à luz de uma análise econômica. Esses arrendatários se veem na obrigação de plantar culturas econômicas para se manter e pagar esses valores altos para o dono da terra;

C) A pressão por parte dos players do mercado, onde estes induzem os produtores a plantar uma cultura econômica torcendo para que o clima colabore é assim recebam pelos insumos fornecidos;

D) A falácia de que o seguro cobre as despesas de plantio caso ocorra uma frustração, o que não é verdade. Se cobrir, é só uma pequena parte da despesa total;

P: Com base nisso, na sua opinião, como seria possível uma reversão deste quadro de adoção parcial do SPD?

R: Para reverter esse quadro já temos várias ações que levam tempo para maturar e trazer resultados. Dentre elas, podemos citar, por exemplo, as cooperativas e revendas com seus respectivos profissionais em seus dias de campo e no dia a dia estão cientes de que só o PD não é suficiente e estão trabalhando junto aos produtores para que estes reservem uma parte de sua área para o SPD; os problemas com cigarrinhas, percevejos, ervas daninhas resistentes, compactação de solos têm se tornado um problema que só um SPD bem feito vai amenizar; os sindicatos rurais também têm se empenhado para que, no Paraná, se pratique uma agricultura mais sustentável como o SPD, pois no futuro os produtos agrícolas que queiram participar do mercado internacional certamente vão precisar de uma certificação nesse sentido. Estamos no bom caminho pois não existe outra alternativa a não ser essa do SPD!

P: A partir da missão da Federação de tornar o SPD ainda mais adotado, valendo-se, inclusive, da capilaridade dos estados, como especificamente no seu estado esse esforço será feito? Já existem ideias, projetos, estratégias para essa tarefa?

R: A estratégia da Federação aqui no PR, é continuar com as parcerias com as universidades visando principalmente a nova geração de profissionais e também trabalhos científicos conjuntos. Os trabalhos conjuntos com as nossas cooperativas e revendas de insumos, concessionárias de máquinas agrícolas, fornecedores e fabricantes também serão trabalhados já que todos dependem de uma terra produtiva e sadia que só o SPD pode proporcionar. Temos produtores no SPD que são exemplos a serem copiados e deverão ser visitados em eventos que a FEBRAPDP irá realizar. Temos, inclusive, a felicidade de contar, no Paraná, com os pioneiros do SPD, infelizmente Herbert Bartz e Nonô Pereira já nos deixaram, mas os seus sucessores continuam esse belo trabalho de divulgar o trabalho pioneiro destes. Franke Dijkstra e Herbert Bartz nos brindaram com verdadeiros bestsellers que devem ser os livros de cabeceira de todos que acreditam no SPD, sendo autores de "O Solo Ensinou" e o "O Brasil Possível", respectivamente. Franke Dijkstra, além de autor e pioneiro do SPD, tem uma bela e produtiva fazenda onde conduz com a família e é considerado um grande caso de sucesso na conservação produção e rentabilidade; tudo isso graças ao SPD.

P: Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre a sua percepção pessoal, de como vê e sente o engajamento/interesse dos produtores estaduais em se envolverem ou apenas ouvirem orientações técnicas que proponham essa mudança para a adoção mais integral do SPD. 

R: Temos o privilégio de morar e exercer a atividade agrícola em um estado que foi o porto seguro de inúmeros imigrantes que fugindo de condições desfavoráveis em seus países de origem, tiveram a oportunidade em iniciar uma nova vida e proporcionar um recomeço. Devido às condições favoráveis de nosso estado, progrediram e a maioria hoje consegue explorar a terra de forma bastante rentável aumentando, inclusive, o seu patrimônio não só no Paraná mas em outros estados também. Que a história nos ensine a lição de nossos antepassados, quando estes, com trabalho árduo e com as limitações da época, conseguiram o seu sustento e sucesso que perdura até os dias atuais. Para que esse sucesso continue nas próximas gerações todos precisam estar abertos a novos conhecimentos e novas tecnologias. Ficar parado no tempo e continuar com as mesmas técnicas das últimas décadas não nos levará a um futuro promissor. O SPD é o caminho para um futuro sustentável e promissor!