Workshop aborda tecnologias para produção sustentável de grãos

Por Sandra Brito, Embrapa Milho e Sorgo

Workshop aborda tecnologias para produção sustentável de grãos
Foto: Sandra Brito/Embrapa

A transferência de tecnologias para apoiar a reconversão produtiva e o uso de Boas Práticas Agrícolas no sistema de produção e no armazenamento de grãos foram assuntos do workshop realizado em Três Marias-MG, dia 29 de junho. O evento, nomeado “Tecnologias para uma produção sustentável de grãos”, aconteceu na sede da Associação Comercial da cidade.

“Essas tecnologias, além de contribuírem para uma produção sustentável, agregam valor à produção, melhoram a rentabilidade e as operações de negócios e contribuem para o desenvolvimento regional”, pontuou o coordenador do evento Sinval Lopes, engenheiro agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo.

A iniciativa integra as ações de um projeto de cooperação técnica entre a Embrapa e a prefeitura de Três Marias e contou com o apoio da Emater Minas, da Associação Comercial, do Banco do Brasil, da Jecal Agropecuária e do Sicoob Aracoop. Participaram do evento autoridades locais e estaduais, produtores rurais, professores, técnicos e consultores de empresas públicas e privadas.

A palestra magna “Desafios na produção sustentável no mercado internacional de commodities” foi proferida pelo coordenador do escritório da Embrapa na Europa (Labex-Europa), Vinícius Pereira Guimarães. Seu objetivo foi demonstrar uma percepção diferente do termo commodities ao explicar que o assunto faz parte da conjuntura da cidade. “Enxergar o mercado internacional de commodities pode parecer muito distante e diferente da realidade de Três Marias. Mas se a gente olhar por alguns ângulos diferentes percebemos novas oportunidades”.

Segundo Guimarães, o Brasil está entre os maiores produtores de soja e de milho do planeta, e todos precisam estar alinhados às normas de produção de grãos para exportação, bem como mostrar que o Brasil produz de forma sustentável. Os sistemas Plantio Direto e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, a recuperação de pastagens degradas e a adoção de insumos biológicos foram algumas das tecnologias citadas por Guimarães.

Em seguida, o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário, João Denilson de Oliveira, e a assessora técnica, Karla Jorge da Silva, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), falaram sobre os “Desafios para a implementação do Plano ABC + MG”. Eles explicaram as propostas das tecnologias preconizadas pelo Plano Agricultura de Baixa emissão de Carbono (Plano ABC) com ênfase na expansão do Sistema Plantio Direto (SPD). “As tecnologias recomendadas pelo Plano ABC + são positivas para os produtores rurais porque promovem o melhor aproveitamento da área de produção da propriedade, intensificando seu uso de forma sustentável”, disse Silva.

Os pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo Maurílio Fernandes de Oliveira e Marco Aurélio Guerra Pimentel também compartilharam seus conhecimentos no workshop. Oliveira abordou a “Necessidade de Preparo de Solo: Tomada de Decisão”, e Pimentel falou sobre os “Desafios para Conservação e Armazenagem Adequada de Grãos”.

Oliveira mostrou como fazer o preparo do solo em novas áreas com diferentes implementos e a descrição dos parâmetros a serem observados quando do solo compactado. O intuito da discussão foi expor a necessidade de teor de umidade do solo para entrada de máquinas, assim como as opções de implementos para a etapa de abertura de áreas. “Para fazer o diagnóstico de possível solo compactado, é preciso observar alguns parâmetros, como a resistência à penetração, acidez e alto teor de alumínio em profundidade, a mudança no valor de densidade aparente do solo e o não crescimento das raízes das culturas em profundidade”, explicou o pesquisador.

Em sua palestra, Pimentel enfatizou que “os danos aos grãos são irreversíveis” e que “a qualidade dos grãos deve ser observada desde a produção até a colheita”. Para isso, é preciso escolher uma cultivar adequada e observar as épocas de plantio e de colheita. Algumas ferramentas disponíveis para ajudar o produtor são o Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (Zarc) o aplicativo Plantio Certo. Outros detalhes que devem ser bem planejados são o sistema de produção e o tipo de controle fitossanitário.

Para finalizar o workshop, na palestra “Otimização e Inovação na Armazenagem de Grãos”, o gerente de Negócios da Precon Pré-fabricados e da AgriTech Everseed, Lucas Castanheira, abordou como sua empresa trabalha com soluções para garantir a qualidade do grão na pós-colheita.

Desenvolvimento rural e parcerias

O workshop contou com a presença de representantes das empresas parceiras do projeto. O prefeito municipal de Três Marias, Adair Divino da Silva, enfatizou que os eventos favorecem a construção de parcerias. “Vivemos em um mundo totalmente globalizado e necessitamos acompanhar o desenvolvimento das tecnologias. Quero registrar a importância deste trabalho com a Embrapa e com a Emater, duas instituições que contribuem para que possamos fortalecer cada vez mais o nosso município em todos os sentidos, incluindo a agropecuária e a indústria”.

“O agronegócio brasileiro é cultural, social, econômico e ambiental, e esse tipo de projeto é fundamental para trabalharmos juntos e amplificar o desenvolvimento rural e urbano do nosso País”, ressaltou Sinval Lopes, coordenador do evento.

“Nosso objetivo foi trazer novos conhecimentos, promover o intercâmbio entre os diversos parceiros e produtores, para viabilizar a implantação de uma agricultura mais tecnificada”, disse Magno Rocha, técnico extensionista da Emater de Três Marias.

O presidente da Associação Comercial, Claudiano Alves da Silva, mencionou o evento realizado pela equipe, no início do ano, na fazenda de Alzair Teodoro. “Ali foi constatado que temos condições para desenvolver ainda mais o agronegócio na região de Três Marias”, disse.

“Até pouco tempo atrás, havia em Três Marias apenas a agropecuária de corte e o plantio de eucalipto”, disse a gerente geral do Banco do Brasil, Cássia Núbia Félix. “Estive presente desde a primeira reunião, em 2020, na secretaria municipal, junto com os produtores rurais, quando vi de perto esse projeto nascer. Provamos que é possível, com a ajuda de parceiros e com a presença efetiva da Embrapa, mostrarmos grandes resultados com a implantação de lavouras, fortalecendo a economia da região. A importância dos produtores rurais em consolidar uma atividade sustentável para o desenvolvimento do município é fundamental para a diversificação econômica de Três Marias”, comentou.

Para o produtor rural André Benício Zuconi, a realização de capacitações é essencial. “Outros workshops com mais conteúdos, podem ser organizados, para que mais pessoas possam participar”, sugeriu. Em sua fazenda, uma área de 150 hectares é dedicada ao cultivo de grãos de milho e de soja. A produção é destinada ao mercado interno ou externo, dependendo do ano agrícola.

Após a colheita

O pesquisador Marco Aurélio Pimentel discorreu sobre os cuidados em cada etapa após a colheita, desde a recepção, classificação, limpeza e armazenagem, até as estratégias para proteção e detecção de insetos-pragas, fungos e micotoxinas. Confira as dicas:

“Na recepção devemos evitar guardar o produto na moega, por períodos prolongados, e se possível segregar os grãos pelo teor de umidade.”

“A etapa de classificação geralmente pode gerar pontos de dúvidas, e até conflitos, quando pode haver discordância quanto a descontos aplicados pelo teor de umidade, impurezas, sujidades e outras classes de defeitos.”

“Os produtores devem ficar atentos às normas de classificação estabelecidas pelo Mapa como base para o mercado. E no caso da soja, atenção à revisão da norma de classificação, que estabelece percentual máximo de umidade de 13%, em razão de uma demanda da China, que é o maior mercado da soja nacional.”

“A retirada dos quebrados e de impurezas deve ser realizada, dentro dos níveis aceitáveis, para favorecer a qualidade dos grãos em período de armazenagem prolongados.”

“A proteção dos grãos contra os insetos deve ser realizada utilizando inseticidas registrados e seguindo as orientações dos fabricantes, caso contrário podemos contaminar os grãos com resíduos acima dos limites permitidos pela legislação nacional ou dos limites impostos pelos importadores ou indústrias processadoras.”

“Resíduos acima dos limites permitidos ou uso de inseticidas sem registro para grãos armazenados podem gerar restrições às exportações nacionais. A Embrapa disponibiliza publicações com orientações para uso correto destes produtos.”