Ciência do Solo perde Paulo Klinger

Por Carlos Dias, Embrapa Solos

Ciência do Solo perde Paulo Klinger
Foto: Divulgação Embrapa

Na tarde do dia 12/03, a pedologia brasileira perdeu um dos seus maiores expoentes, o pesquisador Paulo Klinger Tito Jacomine, que faleceu, aos 89 anos de idade na cidade do Recife, PE. Fluminense, nascido em São Fidélis, foi um dos maiores expoentes da Ciência do Solo no país e contribuiu efetivamente para a criação da pedologia brasileira, a partir da década de 1950.

Engenheiro-agrônomo, graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1957), possuía título de Livre Docente em Gênese, Morfologia e Classificação do Solo, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em 1974.

Iniciou a sua carreira de pedólogo, no Instituto Agronômico de Minas Gerais (1957), e ingressou na antiga Comissão de Solos do Ministério da Agricultura, em 1958, participando do levantamento de solos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e outros. Em 1963, foi deslocado para integrar a Frente Regional Nordeste da Comissão de Solos, com sede no Recife, com o objetivo de realizar os levantamentos de solos de toda a região Nordeste e do Norte de Minas Gerais.

Em 1965, fez o Curso de Fotointerpretação e de Pedologia, na França, pelo Institut Français de Recherche Scientifique pour Le Développement en Coopération (Orstom), e estágio na Costa do Marfim, na África.

Foi professor de Geologia de Solos e Fundamentos da Ciência do Solo na UFRPE, de 1966 a 1967. A partir de 1970, foi o responsável por todas as atividades de pesquisa da Frente Regional Nordeste. Em 1973, com a criação da Embrapa, é nomeado Coordenador Regional do Nordeste do Serviço Nacional de Levantamento e Conservação do Solo (SNLCS), até 1985, sendo o responsável, em 1984, pela mudança definitiva da Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos para a atual sede, no bairro de Boa Viagem, no Recife.

Paulo Klinger estabeleceu-se definitivamente no Nordeste no início da década de 1970, onde constituiu sua família e onde gostava de viver, embora tenha realizado viagens técnicas, expedições e pesquisas nos quatro cantos do Brasil e do exterior.

Foi um dos grandes responsáveis pela consolidação da pedologia na região. Com o seu inquestionável espírito de liderança e contando com o apoio da equipe de pedólogos da Frente Regional Nordeste (posteriormente coordenadoria Regional Nordeste), conseguiu executar os levantamentos exploratório-reconhecimento de solos de todos os estados da região Nordeste do Brasil e do Norte de Minas Gerais, entre outros estudos realizados no território nacional, obra que é referência até os dias de hoje.

Em 1990, aposentou-se e a partir de 1994, passou a ser professor visitante das disciplinas Gênese, Morfologia e Classificação do Solo do Curso de Pós-Graduação em Agronomia – Ciência do Solo da UFRPE. Até o final da década de 2010, Paulo Klinger participava ativamente das atividades de mapeamento de solos na UEP Recife, mesmo estando aposentado.

O seu legado para a Ciência do Solo brasileira é enorme, sobretudo as contribuições direcionadas para o desenvolvimento da taxonomia dos solos do país. Cabe destacar, dentre muitas outras publicações, a sua contribuição efetiva para publicação do livro Classes gerais de solos do Brasil, no início da década de 1990; e para a publicação da primeira edição do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), em 1999, que serviu de alicerce para todas as edições subsequentes do SiBCS.

Em 2016, decidiu escrever com outros autores, dentre os quais, o também saudoso e amigo Luiz Bezerra de Oliveira, a História da Unidade de Pesquisa da Embrapa Solos no Nordeste do Brasil (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1065851/historia-da-unidade-de-pesquisa-da-embrapa-solos-no-nordeste-do-brasil), no qual conta um pouco do seu legado. Nesse mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.