“É preciso mudar para melhor, mas com o corpo vivo”

Da Redação FEBRAPDP

“É preciso mudar para melhor, mas com o corpo vivo”

No dia 29 de outubro, o produtor rural do oeste baiano e também vice-presidente da FEBRAPDP, Luiz Pradella participou de um evento virtual promovido pela Asociación Argentina de Productores en Siembra Directa - Aapresid. O encontro fez parte do Land Innovation Dialogues, que é uma série de eventos organizados por instituições interessadas em compartilhar conhecimentos sobre inovação sustentável na cadeia da soja. A iniciativa veio na esteira da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021, a COP26. Pradella falou um pouco a respeito desta participação e sobre como percebe o atual momento.

 

FEBRAPDP: O senhor participou de um painel da Aapresid como parte das ações da COP26 falando sobre as experiências a partir do olhar do produtor rural. O que o senhor levou como experiência e o que trouxe da experiência dos produtores que também falaram?

Luiz Pradella: O objetivo do convite da Aapresid era de ouvir o que produtores de outros países, no caso do Brasil, pensam a respeito da Sustentabilidade na cadeia da soja. Neste caso, levei ao conhecimento deles os projetos de sustentabilidade que os produtores do Oeste da Bahia de forma organizada e coordenada pelas associações desenvolvem para que sejamos sustentáveis economicamente, socialmente e ambientalmente. Ações de transferência de tecnologia para os pequenos produtores, ações sociais com diversas entidades, estudo do potencial hídrico da região, projetos de identificação e recuperação de nascentes que este rendeu prêmio da ANA de melhor projeto do ano. O que aprendi é que a Argentina também está preocupada em desenvolver inciativas neste sentido sempre visando incrementar e melhorar a produção sustentável.

 

FEBRAPDP: Sob o ponto de vista das políticas sustentáveis, como o senhor percebe o posicionamento internacional frente aos desafios que se impõem nos próximos anos? E como o Brasil se situa hoje com vistas a essas demandas que farão parte e/ou nortearão as políticas ambientais daqui pra frente? Haverá uma intensificação na cobrança pelos compromissos e responsabilidades?

Luiz Pradella: Neste sentido, o que vejo é uma grande desinformação de pessoas que não têm conhecimento de causa e atacam determinados setores. Se temos problemas a serem resolvidos, creio que não será o agro sozinho que terá condições de resolver isto do seu bolso uma vez que o benefício é da sociedade como um todo. Sabemos que, por séculos, muitos países utilizaram energia mineral para mover a economia e uma hora a conta chegou e em algum momento querem responsabilizar o Brasil por isto. Aqui temos muitos exemplos de energia renovável como é caso de hidroelétricas, projeto pioneiro do etanol a partir da cana-de-açúcar, produção de energia fotovoltáica, eólica, biogás a partir de excrementos animais. Enfim, temos uma matriz produtiva sustentável que nada mais é do que um ciclo virtuoso de produção. Por exemplo: Se produz biomassa através do sequestro de carbono para produzir carne bovina e não somente carbono como muitos acreditam que seja. O Brasil iniciou o Sistema Plantio Direto (SPD) há 50 anos e hoje se aproxima de 40.000.000 de hectares de área e, com isto veio, além da proteção, o aumento de produtividade, o que poupa novas áreas para atender à demanda mundial de alimentos e energia a partir da agricultura. Precisamos melhorar a comunicação sobre o que estamos fazendo e como estamos fazendo a fim de diminuir a animosidade entre as classes; enfim, melhorar o conhecimento para que tenhamos inciativas cada vez mais inovadoras e eficientes do ponto de vista de consumo energético.

 

FEBRAPDP: E o SPD, como esteve presente nas discussões?

Luiz Pradella: O SPD é um dos importantes alicerces da tão falada sustentabilidade pois é o início da construção de ambiente de produção menos impactante para a natureza. Ali podemos ter microrganismos de solo em grandes quantidades que permitem um sistema de produção mais robusto e seguro tanto para o produtor quanto para a natureza. Desta forma, eternizaremos nossos solos para as futuras gerações. Prova disto é que com este sistema temos melhoria do solo, dos processos de produção e da produtividade. 

 

FEBRAPDP: Em linha gerais, mediante ao que viu e sobre à participação que teve, ainda que online, nos esforços da COP26, o que gostaria de falar ou trazer como orientação aos também  produtores brasileiros?

Luiz Pradella: Que o Brasil é exemplo mundial em conservação de suas florestas, precisamos informar de forma mais contundente isto e é o que estamos fazendo. Estamos começando a ser ouvido por muitos pela chegada de novas tecnologias de satélite que só não vê quem não quer pois temos fotos e números, levantamentos feitos por órgãos competentes e até mesmo pela NASA que comprovam isto. Como falei anteriormente, temos uma matriz produtiva sustentável e aos poucos estamos mostrando ao mundo o que estamos fazendo. E com certeza temos e com conhecimento poderemos evoluir muito mais. O que não podemos é aceitar pagar a conta sozinho sem ter participado da festa.

 

FEBRAPDP: Ouviu o discurso da ministra Tereza Cristina. O que achou?

Luiz Pradella: O que temos hoje é um governo alinhado com a agenda ambiental. Como disse a Ministra, seremos uma potência agroambiental. E isto é de grande importância para as próximas gerações. Foi muito prática em seu discurso registrando ali grandes entregas de acordos de convenções anteriores e que o Brasil está à frente das soluções pela sua agenda e criatividade de termos a Embrapa e outras tantas iniciativas que também partem do produtor como é o caso do SPD.

 

FEBRAPDP: Qual a sua percepção pessoal sobre o atual momento brasileiro no contexto no cenário internacional?

Luiz Pradella: Ainda somos muito cobrados pela sociedade que vê o agronegócio como o principal responsável pela maioria dos problemas ambientais e outros que acontecem, mas ai está nossa oportunidade de participação de cada um de nós naquilo que é possível para esclarecer o que é feito e lembrar que a agricultura, com certeza, pode contribuir e muito na mitigação através do sequestro de carbono. Lembrar aqui que esta mudança tem que ser feita sem parar a produção, é como cirurgia de coração. É preciso mudar para melhor mas com o corpo vivo.