Embrapa Solos completa 50 anos celebrando legado e projetando o futuro

A Embrapa Solos comemorou seus 50 anos reunindo mais de 200 colaboradores, parceiros e autoridades no Teatro Ecovilla Ri Happy – Sala Tom Jobim, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ao lado de sua sede histórica, no dia 28 de maio de 2025. A solenidade, marcada pela emoção e animada por uma banda de rock clássico, fez um resgate histórico do legado em ciência do solo deixado pelo centro de pesquisa e suas centenas de parceiros, além de apresentar novas entregas à sociedade e refletir sobre o papel da unidade frente aos desafios futuros.

Entre as novidades apresentadas, destaque para os novos mapas de aptidão agrícola das terras do Brasil e de estoque de carbono nos solos do Rio de Janeiro, além do aplicativo GuardeÁgua, do novo curso EAD gratuito sobre serviços ecossistêmicos e de novidades nas ações do zoneamento agroecológico do estado de Mato Grosso do Sul – veja os detalhes mais abaixo.

Daniel Vidal Pérez, chefe geral da centro de pesquisa, iniciou as celebrações fazendo um resgate histórico detalhado da ciência do solo no Brasil e da Embrapa Solos, criada em 28 de maio de 1975 como Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS), já vinculado à Embrapa, em substituição à Divisão de Pedologia e Fertilidade do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA).

Os principais marcos e conquistas da Embrapa Solos ao longo das décadas foram mostrados ao público em um imenso telão ao longo da solenidade, contando com a participação de pesquisadores da unidade, que ajudaram a resgatar histórias e ressaltar parcerias.

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A importância do recurso natural solo  

Alderi Emidio de Araujo, diretor de Governança e Informação da Embrapa, participou da solenidade representando a Presidente Silvia Massruhá e toda a Diretoria-Executiva da Empresa. Ele enalteceu a importância estratégica da temática da Embrapa Solos e as entregas que unidade realizou nas últimas cinco décadas, a partir de inúmeras parcerias internas e externas em ciência e tecnologia.  

“Solo para a agricultura é tudo, é o substrato que mantém as culturas produzindo. Por isso o papel da Embrapa Solos é decisivo para que o Brasil mantenha o nível de produtividade das suas lavouras e preserve suas reservas naturais e fontes de água. Devido à importância do solo, esta unidade é a que possui a maior transversalidade entre todos os centros de pesquisa da Embrapa”, refletiu o diretor.

Daniel Pérez salientou que é fundamental para qualquer país conhecer profundamente seus solos e suas vulnerabilidades, especialmente com os atuais desafios impostos pelas mudanças climáticas. Segundo ele, toda civilização que não conhecia e não usou bem o seu solo, desapareceu. Por isso, o trabalho de disseminação de boas práticas de manejo do solo e da água precisa ser continuamente desenvolvido.  

“Falamos sobre o sistema plantio direto na palha desde os anos 1970, e foi o que salvou o Brasil. Por que até a década de 70, usávamos técnicas de manejo europeu, que não funciona para o solo tropical, que precisa manter água no subsolo e ser protegido das gotas de chuva. E isso segue sendo a recomendação até hoje, mas muitos produtores se esquecem. As boas práticas de manejo de solo devem ser constantemente lembradas, ano após ano. As pessoas tendem a fazer o caminho mais fácil, que não é o melhor nem o mais eficiente”, alertou o gestor da Embrapa Solos.   

Pedro Alves Correa Neto, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representou o ministro Carlos Fávaro na solenidade. O secretário ressaltou que fazer política pública tendo o reforço e o amparo de uma das melhores empresas de pesquisa agropecuária do mundo traz um conforto significativo.

“Trabalhar a política, a interpretação e a dinâmica dos solos com seriedade, alto rigor científico e níveis de excelência em pesquisa e inovação é algo que a Embrapa Solos vem fazendo ao longo das últimas cinco décadas. Não por coincidência, é o tempo que a agropecuária levou para incorporar nos seus meios de produção os resultados das pesquisas científicas e inovação que a Embrapa conduziu, incentivando universidades e outras instituições de pesquisa públicas e privadas a fazerem parte de um grande ecossistema de inovação que trouxe a realidade de uma agropecuária sustentável para o Brasil”, analisou.  

Foto: Claudio Capeche / Embrapa

Fortalecimento do PronaSolos

Pedro Neto anunciou em primeira mão, durante o evento, a publicação no Diário Oficial da União das portarias 52 e 53 do Ministério da Agricultura, de 27 de maio de 2025, que designam, respectivamente, os membros dos comitês estratégico e executivo do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos (PronaSolos), coordenado pelo Mapa e que mobiliza dezenas de instituições parceiras na investigação, documentação, inventário e interpretação dos dados de solos brasileiros. O objetivo é mapear os solos de 1,3 milhão de km² do País nos primeiros dez anos, e mais 6,9 milhões de km² até 2048, em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000. De acordo com a portaria 53, caberá à Embrapa Solos exercer a secretaria geral do Comitê Executivo - acesse as portarias.

“Sei que esses são documentos bastante esperados pelas instituições que compõem uma das iniciativas muito importantes no contexto da saúde, conservação e interpretação dos solos, que é o PronaSolos. Ver a política avançando, na velocidade que a administração pública é capaz de fazer, de forma contínua, é uma satisfação”, pontuou Pedro Neto.   

Antes da solenidade, o secretário do Mapa conheceu a infraestrutura da Embrapa Solos, especialmente o recém-reformado Laboratório de Geoprocessamento onde está localizada a Sala de Situação e Controle do PronaSolos, com uma demonstração do funcionamento da plataforma tecnológica do programa. As reformas tiveram apoio financeiro do Ministério da Agricultura e da Finep.

Também conheceram a Sala de Situação e Controle do PronaSolos, após o evento, o diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Alexandre Pires, que iniciou tratativas para uma parceria com a Embrapa Solos na temática da desertificação, além do diretor da Embrapa Alderi de Araujo - veja álbum de fotos.

Parceria histórica em ciência do solo

Outro momento especial da solenidade foi a homenagem prestada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) à Embrapa Solos, com a entrega de uma placa destacando a contribuição do centro de pesquisa para o desenvolvimento da ciência do solo no Brasil e ao aprimoramento de práticas agrícolas sustentáveis em benefício da sociedade e do meio ambiente. Coube ao professor Reinaldo Cantarutti, secretário-geral da SBCS, que representou a presidente da sociedade, Maria Eugenia Escobar, a entrega do objeto histórico ao chefe geral da unidade, Daniel Pérez.

Cantarutti ressaltou a parceria histórica entre SBCS e Embrapa Solos, lembrando do surgimento da instituição no mesmo prédio histórico que hoje abriga o centro de pesquisa. “A Sociedade Brasileira de Ciência de Solo nasceu, em 1947, em uma das salas do Instituto de Química Agrícola, com a Criação da Comissão de Solos. E por aqui ficou durante 22 anos, antes de seguir para Campinas (SP) e depois para Viçosa (MG). São quase 80 anos de história da sociedade científica mais antiga do Brasil”, destacou.   

Novas entregas à sociedade

O pesquisador Amaury de Carvalho Filho apresentou ao público a versão atualizada do mapa de aptidão agrícola das terras do Brasil, na escala 1:500.000, que indica em nível regional o potencial das terras para uso com lavouras, em três níveis de manejo, ou para usos menos intensivos, com pastagem plantada, silvicultura ou pastagem natural. Os estudos foram desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa Solos e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com aporte financeiro do Ministério da Agricultura e Pecuária – saiba mais aqui.

Outro lançamento, apresentado pelo pesquisador Gustavo Vasques, foi o dos mapas de mapas de estoque de carbono orgânico do solo englobando todo o estado do Rio de Janeiro. O mapeamento foi feito em duas profundidades, 0-20 e 30-50 centímetros, na resolução espacial de 30 metros, o que equivale a aproximadamente uma escala de 1:100.000. Os valores de entrada do estoque de carbono do solo foram obtidos do Inventário Florestal Nacional no Estado do Rio de Janeiro (IFN), desenvolvido pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) entre 2013 e 2016. Os mapas são fruto de um acordo de cooperação técnica entre Embrapa Solos e Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro (SEAS-RJ) – leia mais.

A pesquisadora Elaine Fidalgo falou sobre novo curso EAD sobre Serviços Ecossistêmicos na Paisagem Rural, que acaba de ser lançado pela Embrapa Solos e já disponível gratuitamente na página e-campo da Embrapa, com carga horária de 55 horas – acesse aqui.   

Outra novidade, que deve ser lançada em agosto de 2025 em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), será a Plataforma Tecnológica Digital denominada GuardeÁgua. Tratam-se de um aplicativo e um site que têm como objetivo apoiar técnicos de organizações de assistência técnica e extensão rural, agentes de desenvolvimento rural sustentável e agricultores e agricultoras na tomada de decisão para a seleção de locais adequados à construção e uso agrosustentável de barragens subterrâneas. De acordo com o pesquisador Flavio Adriano Marques, coordenador da Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife (UEP Recife), a ferramenta possibilitará a definição do local, indicando o tipo, o modelo e o tamanho de barragem subterrânea mais adequada para cada ambiente, a quantidade de materiais necessários e as etapas de construção, além de sugestões de culturas e épocas de cultivo com adoção de práticas de manejo do solo e da água.

Já o pesquisador Silvio Bhering apresentou os detalhes do trabalho de levantamento de solos do estado de Mato Grosso do Sul (exceto o Pantanal), desenvolvido há duas décadas e que foi uma etapa básica do Zoneamento Agroecológico do estado, abordando mais de 20 culturas. Trata-se de um dos maiores projetos de mapeamento de solos do Brasil, realizado em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), com apoio do PronaSolos em sua última etapa. Com mais de 3.500 pontos visitados e avaliados, mais de 10.000 amostras coletadas, 150.000 análises laboratoriais e 100.000 km percorridos, o trabalho resultou em um mapeamento de reconhecimento de alta intensidade na escala 1:100.000.

Desafios futuros

Ao final da solenidade, as chefes-adjuntas de P&D, Ana Paula Turetta, e Transferência de Tecnologia, Gizelle Bedendo, refletiram sobre os desafios que a Embrapa Solos terá que enfrentar para continuar realizando entregas relevantes para a sociedade.

Turetta falou do papel evidente dos solos na segurança alimentar, frente às tendências de expansão populacional, maior longevidade e aumento do poder aquisitivo, particularmente na Ásia, África e América Latina. Mas apontou que pouco se fala no potencial desse recurso natural em gerar outros benefícios para a sociedade. "Como na segurança hídrica e energética, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, sociobiodiversidade e economia verde. Ouso resumir o futuro em uma só palavra: multifuncionalidade. A boa notícia é que muitos projetos já realizados e em andamento na Embrapa Solos já demonstram esse potencial multifuncional dos solos", refletiu.

Gizelle Bedendo afirmou que, considerando os cenários futuros e o macroprocesso de inovação, é preciso pensar em como o centro de pesquisa irá aprimorar e fortalecer conceitos como co-criação e inovação aberta, formalização de parcerias e novas formas de utilização da propriedade intelectual, buscando desenvolver novos produtos com soluções integradas e inteligência de dados. "Precisamos buscar maior democratização do conhecimento, a inclusão sócio-produtiva e novas estratégias para alavancar a adoção de soluções tecnológicas em benefício da sustentabilidade", concluiu.