Estudo mostra saúde do solo como balizador de sucesso produtivo sustentável

Da Redação FEBRAPDP

Estudo mostra saúde do solo como balizador de sucesso produtivo sustentável
Marie Bartz durante apresentação na última edição do ENPDP, em 2022 - Foto: Gabriela Zorzan

A interrelação entre os atributos biológicos, químicos, físicos e ecotoxicológicos é fator que define a saúde do solo; portanto, é diretamente correlata ao sucesso ou ao insucesso de uma lavoura. Aferir e valer-se de informações que traduzam como essa associação está se dando e, mais profundamente que isso, em que bases qualitativas acontece, é tornar possível intervenções objetivas e eficazes sobre os resultados produtivos e sustentáveis. Caberá à bióloga Marie Bartz a missão de apresentar os detalhes sobre o que, dentro dessa dinâmica, vem sendo evidenciado pelas pesquisas do SPD Agro+. Ela fará a palestra Indicadores de saúde do solo no Cerrado e Mata Atlântica: inventário e suas relações com os tipos de uso do solo (Modulo III), que acontece no primeiro dia do 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto, em Luís Eduardo Magalhães, BA, no período de 9 a 11 de julho. Confira abaixo, sua entrevista sobre o que será abordado.

Sobre a palestrante

Marie Bartz é filha de agricultor, possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (2003), mestrado em Agronomia, pela Universidade Estadual de Maringá (2007) e doutorado em Agronomia, pela Universidade Estadual de Londrina (2011), ambos com ênfase na área de solos. Atualmente é pesquisadora no Centro Municipal de Cultura de Desenvolvimento, na parceria Organic Farming - Parceria para Agricultura e Produção Biológica, via Centro de Agricultura Regenerativa e Biológica e no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra em Portugal, é professora visitante na Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Estadual de Maringá e diretora secretária da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto – FEBRAPDP no Brasil.

Por que a temática "Indicadores de saúde do solo no Cerrado e Mata Atlântica: inventário e suas relações com os tipos de uso do solo (Modulo III)" é destaque no 19º ENPDP?

O tema desta palestra, que está sob minha responsabilidade, tem por objetivo apresentar os resultados do módulo III, que é parte do Projeto Sistema Plantio Direto: base para uma agricultura sustentável (SPD Agro+). Este módulo III tem por objetivo realizar avalições de indicadores de saúde do solo, que são complementares ao módulo I (carbono do solo) e que validem as adequações e resultados obtidos no módulo II (Índice de Qualidade Participativo). Enquanto o carro chefe do projeto é o carbono do solo e suas formas no perfil do solo, avaliado no módulo I, nós no módulo III exploramos algumas variáveis biológicas, físicas, químicas e ecotoxicológicos do solo que consideramos interessantes para caracterizar a saúde do solo. Entre elas, temos:

  • Biológicas:
    • Abundância, biomassa e riqueza de espécies de minhocas
    • Abundância e riqueza de espécies de enquitreídeos (Microminhocas)
    • Abundância e riqueza de fungos micorrízicos
    • Biomassa microbiana
    • Enzimas do solo
  • Físicas:
    • Diagnóstico rápido da estrutura do solo
    • Densidade aparente

  • Químicas:
    • Pesticidas no solo
    • Fertilidade de rotina

  • Ecotoxiologia:
    • Ecotoxicologia dos solos em minhocas, microminhocas e colêmbolos

As avaliações estão sendo realizadas em áreas de vegetação nativa (Cerrado e Mata Atlântica), áreas sob Sistema Plantio Direto e áreas com um manejo inadequado do solo ou degradado em 20 municípios distribuídos pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão e Piauí. Justamente devido a esta amplitude das áreas amostradas, pretendemos através dos resultados preliminares deste módulo, apresentar o inventário destes indicadores, aproveitando para correlacioná-los entre os tipos de uso do solo e em entre si, procurando entender e apresentar estas relações aos participantes do evento.

 

Confira aqui a programação completa do evento

 

Como diretamente essa questão atua de forma prática no manejo e na performance produtiva do agricultor?

Apesar do cerne do projeto ser o carbono do solo, é imprescindível destacar que os atributos biológicos, químicos e físicos estão intrinsicamente interligados, sendo impossível dissociá-los. Ou seja, dependendo dos teores de carbono (módulo I), assim como a nota que o produtor recebe no IQP (Índice de Qualidade Participativo do Sistema Plantio Direto, aplicado pelo módulo II), na prática os resultados devem estar correlacionados com os indicadores de saúde do solo que o módulo III está avaliando. Ou seja, se o agricultor está acumulando carbono no solo e, por exemplo, ele recebe uma boa nota no IQP, isso deverá obrigatoriamente refletir sobre a biodiversidade do solo (nas populações dos organismos, na riqueza de espécies e na atividade microbiana e enzimática) e na estrutura do solo. E porque essa é também uma “via de duas mãos”, por assim dizer: para a vida do solo se desenvolver, auxiliando a estruturar o solo, é necessário o carbono das plantas (através da rotação e diversificação do de culturas) que é a base da teia alimentar da cadeia trófica dos organismos do solo e vice-versa: para acumular carbono no solo é necessário que a vida do solo esteja ativa fazendo as transformações necessárias do material orgânico. Assim sendo, boas práticas de manejo do solo, como o Sistema Plantio Direto, vão contribuir para a saúde do solo que é refletida nos qualidade dos atributos biológicos, químicos e físicos. Complementarmente, as análises dos teores de pesticidas e os ensaios ecotoxicológicos, confirmam essas boas práticas de duas formas: i. o uso racional e adequando dos insumos e ii. devido às boas práticas de manejo do solo, que aumentam os teores de carbono e mantém o solo vivo e ativo, essa vida é responsável pela degradação dos insumos aplicados, caso contrário, ocorre a acumulação e/ou contaminação destas substâncias no solo.

 

Quais os principais pontos abordados durante a sua palestra e o que o expectador terá, ao final da exposição dos conteúdos, incorporado aos seus conhecimentos e poderá levar para sua prática diária na lavoura?

Penso que já respondi acima, mas a ideia com esta apresentação é sensibilizar, instigar a curiosidade e principalmente mostrar aos agricultores e participantes do evento que, ao mesmo tempo que o solo é uma caixa preta ainda, bastante complexa e com muito ainda a ser desvendado, é possível e devem ser utilizadas uma série de ferramentas/indicadores para nos auxiliar a monitorar e indicar como o agricultor tem tratado o solo, mas principalmente se o agricultor tem praticado o real SISTEMA Plantio Direto.

É importante destacar ainda que o módulo III, conta uma força tarefa grande de recursos humanos envolvidos. São mais nove pesquisadores: Dr. George Brown (Embrapa Floresta), Dra. Cintia Niva (Embrapa Suínos), Dr. Ricardo Ralisch (FEBRAPDP), Dr. Valdemar Tornisielo (CENA/USP, Dra. Eloana Bonfleur (UFPR), Dra. Krisle da Silva (Embrapa Floresta), Dr. Arnaldo Colozzi (IDR-PR), Dra. Rosilaine Carrenho (UEM) e Dra Julia Niemeyer (USFC). Até o momento temos duas teses de doutoramento (UFPR) e três dissertações de mestrado (UFPR, UFSC e CENA/USP) trabalhando nas informações que têm sido geradas neste módulo de indicadores da saúdo do solo. E para os trabalhos de campo, além dos participantes já mencionados, a equipe conta com a ajuda de mais 15 pessoas, entre graduandos, graduados, pós-graduandos, pós-doutorandos e pesquisadores, que têm se revesado para viabilizar os trabalhos deste módulo.

Abapa convida

"O cultivo do algodão no Brasil e, em especial, na Bahia, prioriza a sustentabilidade. Aqui no Oeste, os produtores estão adotando boas práticas em seu dia a dia, garantindo a longevidade e o equilíbrio do sistema produtivo, além de conscientemente conservarem e cuidarem do uso correto da água e do solo. Mais do que apenas cumprir com as exigências do mercado, essas práticas estão, de fato, incorporadas à rotina das fazendas.

Por isso, o Encontro Nacional do Plantio Direto será um espaço importante para trocar experiências e informações estratégicas sobre o que os produtores estão fazendo na busca por uma agricultura mais eficiente e sustentável. Estendo e reforço o convite para que agricultores, pesquisadores, estudantes, técnicos agrícolas e todos os envolvidos na cadeia produtiva se juntem a nós neste importante evento que será realizado em Luís Eduardo Magalhães. Conto com a presença de todos. Nos vemos lá!" Convida Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).

Inscrições e associação à FEBRAPDP

Para participar do 19º Encontro Nacional do Sistema Plantio Direto e ter acesso aos benefícios de associado, que incluem descontos nas inscrições, basta associar-se à Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP (link também disponível no site de inscrição do evento). Dentre os benefícios de ser um associado estão: o certificado exclusivo de associado FEBRAPDP; acesso ao Portal de eventos, onde você confere a programação completa de todos os eventos da FEBRAPDP que foram realizados e gravados; participação gratuita em Web-Fóruns Amigos da Terra FEBRAPDP com direito a certificado, e descontos exclusivos em eventos organizados e apoiados pela FEBRAPDP.

A realização do 19º ENPDP é da FEBRAPDP, que conta com a parceria da própria ABAPA, da Associação dos Criadores Gado Oeste da Bahia – Acrioeste, Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA, da Associação dos Produtores de Sementes dos Estados do Matopiba – Aprosem, da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia – FAEB/SENAR/Sindicatos, da Fundação Bahia, do Governo do Estado da Bahia, do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras – SPRB, do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães – SPRLEM, da Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB e da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.