"Madeira Sustentável para um Mundo Sustentável”, da FAO, é tema de evento latino-americano

Por Ana Reimann e Katia Pichelli, Embrapa Florestas

"Madeira Sustentável para um Mundo Sustentável”, da FAO, é tema de evento latino-americano
Foto: Katia Pichelli/Embrapa Florestas

Com o objetivo de destacar a importância da utilização da madeira de forma sustentável, FAO, IUFRO, Embrapa Florestas, Serviço Florestal Brasileiro e FIEP promoveram o evento “Diálogo Regional - Madeira sustentável para um mundo sustentável na América Latina”. Durante dois dias, cerca de 60 representantes de produtores florestais, indústrias, bancos, consumidores e organizações não governamentais de vários países latino-americanos discutiram um caminho futuro para a sustentabilidade, discutindo ação em 5 áreas principais: manejo de florestas naturais, plantação de florestas industriais e de proteção, bioeconomia da madeira, governança da área florestal e mecanismos financeiros para a área florestal.
Os resultados deste evento foram apresentados em seguida no painel de abertura da Conferência IUFRO 2023 América Latina. Mediado por Thais Linhares, da FAO, a apresentação destacou a relevância da madeira proveniente de florestas, tanto nativas quanto plantadas, manejadas de forma responsável, onde são adotadas práticas que garantem a conservação da biodiversidade, a proteção dos recursos hídricos e a redução do impacto ambiental de acordo com critérios que visam à sustentabilidade também em longo prazo. 
A FAO estima que o crescimento do consumo de madeira nos próximos 30 anos será da ordem de 30%, pois se reconhece que a madeira é um produto renovável, verde e que o plantio e manejo de florestas são as melhores soluções baseadas na natureza para a mitigação de mudanças climáticas e captura de gases de efeito estufa. Com isto, seu uso será cada vez mais incentivado. E se o mundo vai usar mais madeira, nada mais lógico do que discutir de que forma pode ser produzida de forma sustentável. “Quando produzida de forma sustentável, a madeira contribui de forma significativa para o armazenamento de carbono nas florestas. A madeira sólida e a fibra de madeira, por exemplo, podem fornecer produtos com baixo teor de carbono, capazes de substituir os que utilizam os combustíveis fósseis em muitos setores económicos”, destacou Linhares. A líder de governança e economia florestal da FAO ainda destacou a importância do material na paisagem urbana: “as cadeias de valor sustentáveis da madeira são parte fundamental da equação para proporcionar paisagens urbanas e rurais mais verdes, neutras em carbono e resilientes, melhorando, ao mesmo tempo, os meios de subsistência”, afirmou.
A importância da madeira para a sustentabilidade foi replicada pelos facilitadores do Diálogo Regional SW4SW, que sublinharam o papel fundamental da sociedade civil, meio acadêmico e dos setores públicos e privados para o progresso do setor madeireiro, assim como as contribuições da madeira sustentável no enfrentamento a emergência climática e o alcance aos ODS. 
A engenheira florestal Patrícia Machado, da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), enfatizou a comunicação assertiva como principal meta dos embaixadores que propagam informações, já que, nem sempre, as pessoas entendem a diferença entre o manejo sustentável das florestas e o desmatamento: “nesse sentido, cabe, a cada um de nós, destacar a importância da matéria prima e seus produtos. O público em geral está desconectado e não tem conhecimento do que a madeira verdadeiramente representa. Trabalhar para aumentar essa conscientização e compreensão é essencial para impulsionar a sustentabilidade.”
A palestrante ainda ressaltou ser fundamental o conhecimento da sociedade sobre as vantagens adicionais relacionadas ao manejo madeireiro sustentável, como a redução das emissões de carbono e a rastreabilidade dos produtos. Explicou também que a pesquisa de espécies nativas pode abrir caminho para o uso sustentável da madeira, ao promover a conservação de ecossistemas delicados: “com a disseminação dessas informações, os consumidores também se tornam mais conscientes em seus modos de consumo. Outras comunidades, como as indígenas, assim como os pequenos produtores, também precisam de apoio para que possam ser inseridos no progresso da sustentabilidade em longo prazo. As políticas públicas precisam ter perenidade para se conectarem com toda a sociedade”, concluiu.
Aspectos sobre governança, marcas institucionais e planos de implementação tecnológicos, capazes de monitorar e reportar os avanços financeiros provenientes das boas práticas produtivas também foram abordados como essenciais para a criação de políticas públicas inclusivas. 
A interconexão entre finanças e o manejo sustentável foi exposta pelo Diretor de Fomento Florestal do Serviço Florestal Brasileiro, André Aquino, que ressaltou a necessidade de aproximar os incentivos financeiros destinados a florestas aos dados a produção agrícola: “a floresta não é só madeira, mas um conjunto ecossistêmico que engloba a madeira, uma matéria prima que poderia ser utilizada como garantia de negócios por meio de instrumentos como cotas de reserva ambiental, pagamento de serviços e o correto manejo, que se traduzem para que práticas predatórias de desmatamento sejam evitadas”.
O papel da Embrapa na promoção do manejo florestal sustentável e no plantio de novas florestas reforçou a potência da pesquisa científica avançada na gestão de recursos naturais. O incentivo à tecnologia para o desenvolvimento de práticas de conservação florestal, abrangendo a capacitação de profissionais e comunidades, foi assunto amplamente discutido durante o SW4SW e no primeiro painel da IUFRO 2023. A abordagem inovadora da empresa de pesquisa em direção à convergência de sistemas de produção destacou-se na programação: “atuamos com espécies tradicionais de rápido crescimento e uso industrial e com trezentas e quarenta espécies nativas para a criação de uma base sólida para o desenvolvimento da silvicultura, que não apenas restaura paisagens, mas também oferece oportunidades de negócios. Na nossa visão, a interligação estratégica entre agricultura, pecuária e floresta é essencial para a produtividade e manejo sustentável”, destacou Erich Schaitza, Chefe Geral da Embrapa Florestas.
A América Latina passa por um período em que encontrar alternativas para a conservação de nossas florestas naturais é prioridade; por isso, o Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro, Garo Batmanian, especialista em meio ambiente, recursos naturais e economia, falou sobre investimentos na bioeconomia e as metas do Serviço Florestal relacionadas à extração sustentável de doze milhões de metros cúbicos de árvores na Amazônia: “a maioria dessa produção virá de florestas manejadas, o que ajuda a reduzir a pressão sobre o desmatamento. No Brasil, cerca de 85% da madeira é proveniente da floresta, e é crucial tornar essa prática cada vez mais sustentável. Além disso, a área desmatada tem um impacto na agricultura, e, portanto, deve haver um esforço de recuperação, não apenas ecológica, mas também produtiva, com métodos como a silvicultura. É fundamental criar mecanismos que permitam que empresas, tanto públicas quanto privadas, desempenhem um papel na recuperação e manejo florestal em áreas rurais. Este setor tem o potencial de gerar empregos nas zonas rurais, uma oportunidade valiosa para a economia, que, até agora, tem sido subestimada", finalizou.
Segundo o Chefe Geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza, “a urgência do desenvolvimento de práticas florestais sustentáveis para a conservação do meio ambiente tem sido amplamente compartilhada no mundo, uma vez que a crise climática e a degradação ambiental já causam impactos significativos na biodiversidade, recursos naturais e saúde humana”.  Diante desses desafios, o manejo sustentável de florestas naturais e plantadas torna-se indispensável, abrindo espaços de reflexão sobre a utilização consciente dos recursos naturais renováveis, uma vez que a maneira mais efetiva de se manter florestas é dar valor a elas, seja pela produção de madeira, frutos, compostos químicos naturais ou serviços, remunerando todos os envolvidos na sua proteção ou no plantio de novas florestas. 
Ainda segundo Schaitza, muito se fala em novos produtos da floresta e das possibilidades que sua diversidade oferece, mas dentre todos os produtos da floresta, a madeira é o de uso mais amplo e de maior escala de produção e consumo em todas as áreas do mundo. “Por exemplo, a Europa convive com suas florestas, manejando-as há séculos para produzir madeiras para casa, papel, energia e nos últimos tempos compostos para substituição de plásticos e combustíveis derivados de madeira. Os Estados Unidos, uma potência energética, consome anualmente 620 milhões de megawatts-hora de energia proveniente da madeira, o equivalente a produção de dez usinas de Itaipu. Madeira é o principal material de construção de casas e agora começa a ser mais e mais usada na construção de edifícios. No Brasil, produtos de madeira geram uma renda anual de 250 bilhões de reais e estão entre os cinco maiores produtos de exportação nacionais. Mesas, cadeiras, divisórias, papel, têxteis, janelas, portas e mais 5 mil produtos dão emprego direto a 500 mil pessoas e outros 1,5 milhão indiretos”.