Palestra sobre Recuperação do Capital Natural abre conteúdo técnico do 18º ENPDP e 1º EMSPD

A primeira palestra técnica do 18º Encontro Nacional do Plantio Direto na Palha, que acontece em Foz do Iguaçu, PR, entre os dias 5 e 8 de julho, tratará de abordar o tema Agricultura de C e o Sistema Plantio Direto na Recuperação do Capital Natural.

Palestra sobre Recuperação do Capital Natural abre conteúdo técnico do 18º ENPDP e 1º EMSPD
Palhada em Sistema Plantio Direto - Foto: Sílvia Z. Borges/Embrapa

A fala inicial será de responsabilidade do Prof. Dr. João Carlos de Moraes Sá (Juca Sá), presidente da Comissão Técnico-Científica da Federação Brasileira do Plantio Direto – FEBRAPDP. Na sequência, o produtor rural, engenheiro agrônomo e também presidente da Federação Paraguaia de Plantio Direto para uma Agricultura Sustentável - FEPASIDIAS, Martín Maria Cubilla, e o também produtor rural e engenheiro agrônomo Charles Louis Peeters, do Agropecuária Peeters de Goiás, contam as suas experiências pessoais e profissionais sobre o assunto.

 Este roteiro segue um padrão estipulado, no qual a apresentação técnica é feita por um técnico especialista no assunto e, na sequência, é respaldada pelos relatos vivenciais de dois produtores rurais com resultados práticos de sucesso. Essa fórmula estará presente em todas as palestras do evento.

 De acordo como Juca Sá, em linhas gerais, a chamada Agricultura de C se baseia na maximização do acúmulo no solo do carbono fixado pelas plantas cultivadas durante a fotossíntese. A esse respeito ele irá mostrar que o Capital Natural é um ativo que engloba a biodiversidade, a qualidade do solo, da água e do ar que constituem benefícios do meio ambiente para a sociedade. “No momento em que convertemos o Capital Natural em área agrícola alteramos todos esses componentes e, muitas vezes, este impacto é severo. As perdas de C após a conversão com o preparo contínuo do solo atingem 20 a 30% do C total do solo”.

 A ideia, segundo ele, é demonstrar que, através do Sistema Plantio Direto (fundamentado nos seus três pilares: ausência de revolvimento do solo – exceto na linha de semeadura, manutenção da cobertura permanente do solo e a diversificação na rotação de cultivos) é possível reverter esse cenário e atingir uma agricultura produtiva, rentável e socialmente justa.

 “Apresentarei dados mostrando a viabilidade da recuperação do C perdido nessa conversão com a adoção de sistemas de produção embasados na adição de elevadas quantidades de resíduos culturais (palhada e raízes) e na diversificação na rotação de cultivos. Também abordarei o papel das pontes verdes – que são os cultivos de cobertura – assegurando o solo coberto durante a estação seca e mantendo o C armazenado no solo. Daremos exemplos de sistemas de produção que recuperam esse ativo para as regiões tropical e subtropical resultando na capitalização do produtor e na geração de serviços ecossistêmicos”.

 Durante a palestra, Juca Sá tentará responder questões como: Quanto C podemos recuperar com os sistemas de produção em plantio direto? Quanto tempo vai demorar? Qual o ganho na produção das culturas investindo na agricultura de C? Iremos recuperar o Capital Natural?

 “Não podemos esquecer que nos últimos 50 anos a adoção do SPD evitou a perda de 7,1 a 21,2 bilhões de toneladas de solo, equivalente a preservação de 2,5 a 8,5 milhões de hectares (camada de 0-20 cm).  Estou completamente convencido deque a Agricultura de C associada ao SPD possibilitará a verticalização da agricultura e o aumento expressivo da produção sem a necessidade de derrubar uma única árvore. Temos muito chão pela frente e muito o que evoluir”, complementa Juca, que ainda faz questão de convidar agricultores, engenheiros agrônomos, consultores, técnicos agropecuários, estudantes, professores, pesquisadores e outros que atuam na atividade agropecuária a participarem do 18º ENPDP e do 1º Encontro Mundial do Sistema Plantio Direto.

 

Qualidade

 “É inútil fazer plantio direto se não for como um sistema e com qualidade”. É com essa frase que Martin Cubilla abre sua entrevista. É sobre sua experiência prática a esse respeito que falará ao público do 18º ENPDP. 

Ele explica: “no ano de 2001, o Paraguai passou a ocupar o primeiro lugar no mundo como o país com maior adoção de SPD chegando a 90% de sua área agrícola de cultivos extensivos, porém, posteriormente, em 2013 foi possível verificar que a área diminuiu para 73%, isto despertou a preocupação da nossa Federação, pois representava uma perda na qualidade e capacidade produtiva dos solos. A queda na adoção do SPD pelos produtores foi um duro golpe. No final de 2019, novos estudos mostraram que chegamos a 90% novamente, mas o que devemos melhorar é a qualidade do sistema”.

 Para ele, o rendimento por hectare pode ser aumentado, pois existem áreas onde são produzidos de 5.500 a 6.000 quilos de soja por hectare, sob SPD com qualidade, mas a média nacional é metade disto. Cubilla acredita ser necessário injetar mais dinheiro em pesquisas, gerar conhecimento e informação local e, sobretudo, desdobrar esforços na assistência técnica ao produtor, o que, para ele, geraria maior capacitação em SPD com qualidade.

 “Não estamos conseguindo ganhar dinheiro (custo de oportunidade) em termos de aumento da produção de quilos por hectare, seja soja, milho, trigo, só para citar algumas culturas, com o manejo de hoje, ainda estamos longe de atingir o potencial de rendimento. Isto acontece primeiro pelo manejo inadequado dos solos, nos falta melhorar com o uso intensivo de adubos verdes como plantas de cobertura, rotação de culturas, adubação e nutrição equilibrada, boas práticas agrícolas, etc. Com certeza estaríamos logrando conseguir maiores resultados e, sobretudo, melhorando nossos solos, com a adoção do SPD com qualidade”.

 

Referência produtiva

 Charles Peeters, filho do saudoso Andreas Peeters, assumiu a responsabilidade pelos empreendimentos da família após o falecimento do pai, em 2015. Atualmente, ele é o diretor de produção na Fazenda Vargem Grande, de propriedade da família Peeters, em Montividiu, GO. Em sua fala no 18º ENPDP, abordará os métodos utilizados pelo pai e o avô, e que agora chegam à terceira geração sempre com resultados muito eficientes e sinônimo de sucesso produtivo com sustentabilidade. O trabalho dos Peeters é referência e forma opinião na região.

 “O equilíbrio do nosso sistema de produção passa pelo o uso de um conjunto de recursos, de pesquisas e de dados coletados para entender melhor o que está acontecendo e nos fornecer informações qualificadas para tomar as decisões mais assertivas e que geram maior rentabilidade, produtividade e sustentabilidade. Vamos apresentar nosso case e algumas das informações que temos sobre nossas melhores práticas sustentáveis para melhoria, resiliência e perpetuidade do ambiente de produção”, destaca.