Preparando o terreno para a COP30
Da Redação FEBRAPDP

Evento estratégico para impulsionar a agenda climática global, a Conferência Global Climate-Smart Agriculture (CSA) 2025 antecederá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30). Marcada para 5 a 7 de novembro de 2025, em Brasília, a CSA reunirá líderes científicos, formuladores de políticas, investidores e representantes do agronegócio com a meta de construir soluções concretas para uma agricultura sustentável. O encontro, realizado pelo governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e da Universidade de Brasília (UnB), em conjunto com a ONG Clime-EAT, servirá como plataforma crítica para alinhar posicionamentos e ações antes do grande evento climático mundial, a COP30, que ocorrerá a partir da semana seguinte, entre 10 e 21 de novembro, em Belém, Pará.
O evento focará em três pilares essenciais: geração de conhecimento científico, desenvolvimento de políticas públicas e criação de oportunidades de investimento em agricultura resiliente. Ao conectar esses diferentes atores, a conferência pretende criar pontes entre a ciência e a implementação de medidas efetivas, estabelecendo as bases para negociações climáticas mais robustas durante a COP30.
No artigo a seguir, assinado por Luís Eduardo Rangel, auditor fiscal Federal Agropecuário do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do MAPA; Jorge Madeira Nogueira, professor titular de Economia da UnB, e Dhanush Dinesh, CEO da ONG Clime-EAT, eles explicam a importância estratégica do evento para o Brasil:
Nos últimos anos, o Brasil tem buscado consolidar sua posição como líder global em sustentabilidade agrícola, promovendo iniciativas voltadas à produção eficiente e com menor impacto ambiental. Com a realização da Conferência o país demonstra estar em um momento crucial para demonstrar sua capacidade de alinhar discursos e práticas. Mas até que ponto essa conferência contribuirá efetivamente para a transformação da agricultura brasileira e mundial?
A proposta central da conferência é gerar soluções tangíveis para mitigar os impactos das mudanças climáticas na agricultura e promover parcerias que garantam a segurança alimentar global. Através de iniciativas como o "deal making", espera-se firmar compromissos concretos entre atores do setor público e privado para financiar e expandir projetos que tragam melhorias reais. No entanto, há um grande desafio: transformar esses acordos em resultados mensuráveis e não apenas em promessas bem elaboradas. A proposta do Governo Brasileiro, principalmente do Ministério da Agricultura e Pecuária, é que essa conferência traçará o caminho para que a COP30 seja a COP da implementação.
O conceito de Climet-Smart Agriculture (CSA) não é novo. Criado em 2010, ele propõe aumentar a produtividade agrícola, reduzir emissões e fortalecer a resiliência dos sistemas produtivos frente às mudanças climáticas. No Brasil, estamos incentivando práticas sustentáveis no que chamamos Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, suportada por políticas públicas como o Plano ABC+. No entanto, a adoção dessas práticas ainda enfrenta barreiras significativas, desde resistências culturais e políticas até a falta de financiamento adequado. Assim, a conferência precisa ir além da simples disseminação de conhecimento e garantir a aplicação de soluções para uma agropecuária mais resiliente em larga escala.
A conferência ocorrerá as vésperas da COP30 entre os dias 5 a 7 de novembro na Universidade de Brasília. Trabalhos escritos serão apresentados e diversos debates ocorrerão com a presença de autoridades, pesquisadores e representantes do setor de agropecuária, desde produtores, empresas do agronegócio e suas representações. Cientistas e outros estão convidados a submeter resumos até dia 31 de maio para possível participação no programa da conferência. Será uma oportunidade para demonstrar que os dados da ciência brasileira podem sim ser impulsionados em conferências de alto impacto global.
Como anfitrião da COP30, o Brasil terá a oportunidade nessa conferência de demonstrar que suas políticas ambientais estão alinhadas com os compromissos internacionais de redução de emissões e proteção dos biomas e que a agropecuária tem sido um setor com colaboração efetiva para as metas. Embora políticas estejam sendo aprimoradas como o Programa Nacional de Recuperação de Pastagens Degradadas (PNCPD), ou a expansão da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a realidade mostra que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que esses programas sejam efetivos em todo o território nacional.
A conferência também busca articular soluções para questões críticas, como o manejo de solo, cultivares resilientes, pecuária sustentável e financiamento verde. Estes temas estão diretamente relacionados ao tema central escolhido para a agenda de ação para a COP30 na agropecuária: Land Restoration for Food Security. A questão é: haverá de fato um compromisso de longo prazo dos atores econômicos e políticos para transformar as propostas da conferência em políticas públicas e incentivos estruturais?
A abordagem proposta pelo evento também inova ao focar na geração de "deals" que buscam compromissos concretos, incluindo financiamento e implementação de projetos. No entanto, para que isso funcione, é fundamental que haja uma governança sólida que acompanhe e fiscalize esses compromissos após o evento. Sem isso, corremos o risco de ver mais uma conferência repleta de boas ideias, mas com poucos impactos reais no campo.
Outro aspecto relevante para a realização dessa conferência neste momento é a nova versão do Plano Clima do Brasil, alinhado a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) que deverá contar com muita contribuição do setor de agropecuária na redução de emissões até 2035 e 2050. A transição para uma agricultura mais resiliente e de baixo carbono só será bem-sucedida se houver políticas que garantam adoção das soluções baseadas em ciência, capacitação e acesso a instrumentos econômicos eficientes para esse segmento.
A COP30 em Belém deve ser o momento em que o Brasil reafirme seu compromisso com uma transição agroecológica e de baixo carbono, consolidando um modelo que combine produtividade com sustentabilidade. A Conferência Global sobre CSA pode ser um passo importante nessa direção, mas apenas se houver um compromisso real de seus participantes em transformar discursos em práticas concretas.
Portanto, a questão central permanece: será esta conferência um catalisador real para mudanças estruturais na agricultura global e brasileira? As experiências que já foram adotadas no Brasil conseguem ser de fato reconhecidas e contabilizadas para os objetivos globais? Podemos servir de inspiração para outros países?
Caberá ao Brasil e seus cientistas, além dos demais atores envolvidos, darem o exemplo e garantirem que as oportunidades geradas pelo evento não se percam no discurso, mas resultem em avanços reais para o setor agropecuário e para o planeta.
Para mais informações sobre o evento, como programação, palestrantes e inscrições, https://globalcsaconference.com/ (em inglês).