SPD em Mato Grosso do Sul: produtores têm interesse em práticas conservacionistas

Da Redação FEBRAPDP

SPD em Mato Grosso do Sul: produtores têm interesse em práticas conservacionistas
Foto: Acervo pessoal Gleyciano Vasconcellos

Dono de uma percepção muito refinada e bastante objetiva, Gleyciano Vasconcellos é produtor rural e empresário em Rio Brilhante, MS. Ele é também vice-presidente da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP para o estado Mato Grosso do Sul. Sob esta condição, nesta entrevista, fala sobre suas percepções a respeito da realidade que percebe e do contexto geral do Sistema Plantio Direto nas lavouras estaduais. Para ele, apesar da baixa adesão ao modelo integral do SPD, existe, sim, e é crescente o interesse dos produtores por práticas e soluções conservacionistas. O que acaba conflitando, porém, são aspectos diversos, como por exemplo, a dinâmica econômica de contextos e situações produtivas, como o arrendamento de terras, no qual o produtor busca se capitalizar o mais rapidamente possível.

 

Pergunta: Quais as estimativas de áreas sob Plantio Direto de forma parcial e de áreas sob o Sistema Plantio Direto de forma integral?

Resposta: Na safra 2022/2023, o Mato Grosso do Sul plantou 3,842 milhões de hectares. Destes, 2,5% vieram do aumento de área em relação à safra anterior, então, por considerarmos a necessária realização do preparo de solo, consequentemente, o que temos nessas novas áreas é plantio convencional. Em Sistema Plantio Direto, no entanto, consideramos módicos 5% do total da área plantada no estado. Nas demais, há em alguma medida a presença do plantio direto parcial, com adoção de algumas estratégias para produção de palha, tais como milho com braquiária e plantas de cobertura de inverno, mas sem rotação de culturas no verão.

 

P: Qual a justificativa para a adoção apenas parcial? Há explicações econômicas, agronômicas/técnicas, culturais ou outras ou todas juntas?

R: Na minha visão, o que mais inibe a adoção integral só SPD é a questão econômica no sentido de geração de caixa, onde a grande maioria dos produtores são 100% agricultores, não exercendo outra atividade que possa a vir compor uma Integração Lavoura-Pecuária (ILP), por exemplo.

 

P: Na sua opinião, qual o principal desafio a ser vencido para reversão deste quadro?

R: Encontrar culturas econômicas que atendam de imediato a necessidade de geração de caixa tanto no inverno quanto no verão.

 

P: A partir da missão da Federação de tornar o SPD ainda mais adotado, valendo-se, inclusive, da capilaridade dos estados, como especificamente no seu estado esse esforço será feito? Já existem ideias, projetos, estratégias para essa tarefa?

R: Sim, tempo como principais objetivos fortalecer os laços já existentes entre as instituições de pesquisa, visando nortear as demandas bem como difundir o Sistema Plantio Direto. Um exemplo a das ações foi a trincheira instalada no Showtec Maracaju, ocorrida em maio, em parceria com a FEBRAPDP.

 

P: Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre a sua percepção pessoal, de como vê e sente o interesse dos produtores estaduais em se envolverem ou apenas ouvirem orientações técnicas que proponham essa mudança para a adoção mais integral do SPD.

R: O que percebemos em Mato Grosso do Sul é que, de maneira geral, o produtor está interessado em técnicas conservacionistas, desde terraço, palhada, rotação, etc. há esse interesse em várias práticas. Milho com braquiária é uma opção, e tem já produtor fazendo milho com crotalária; enfim, buscando integrar outra cultura para poder ir melhorando o sistema desde a correção de perfil de solo, com altas dosagens de calcário, então altamente tecnificados. Porém, para conseguir conjugar o “verbo” do Sistema Plantio Direto em sua integralidade, ele acaba ficando com algumas pernas mancas. Não é que o produtor não queira, nem que esteja desinteressado, também nem se trata de um paradigma, mas o que fica comprometido é a execução propriamente dita do verdadeiro SPD, que esbarra em algumas situações. Uma delas é, principalmente, a rotação de culturas. Quanto à palhada, tem alguns que possuem dificuldades para manter plantas vivas o ano todo. Onde tem milho com braquiária é possível, mas há alguns pontos que acabam pesando para a não adoção do SPD, como, por exemplo, o fato de que muitos produtores são arrendatários e têm de fazer caixa. Então, acabam ficando apenas na sucessão no binômio soja-milho safrinha. Isso é o que mais acontece na nossa realidade. Como soluções para isso, temos a ILP, que é uma grande alternativa, ou fomentar algum sistema de pecuária intensiva, onde aqueles que têm estruturas como de mangueiro e de cerca, conseguem fazer a ILP mesmo não gostando de pecuária, assim torna-se viável implantar no sistema intensivo um modelo diferente. Com essas técnicas, ele consegue uma rentabilidade muito grande, aí sim ele consegue fazer uma rotação verdadeira para o SPD, com ajuda da ILP.

Não posso deixar de registrar que, entre as práticas conservacionistas aqui já visando a vida do solo, já tem uma grande ala dos produtores usando manejo biológico em suas lavouras, com vistas à diminuição de químicos e o aumento expressivo do uso de agentes de controle biológico, seja ele para combate a pragas, a doença ou mesmo como condicionador de solo. Hoje, essas práticas aqui no Mato Grosso do Sul estão muito fortes, visando beneficiar a vida no solo, que é uma das bandeiras SPD.