SPD em Minas Gerais: Fórum visa remover obstáculos técnicos à adoção integral do sistema

Da Redação FEBRAPDP

SPD em Minas Gerais: Fórum visa remover obstáculos técnicos à adoção integral do sistema
Foto: Acervo pessoal

Nos dias 8 e 9 de maio, acontece em Alfenas, MG, o I Fórum Sul Mineiro de Sistema Plantio Direto e Sustentabilidade Agrícola. O evento, que é uma realização da Universidade Unifenas, da Emater-MG e da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto - FEBRAPDP, é também uma ação já com vistas à expansão do SPD em sua íntegra e com qualidade. A iniciativa está dentro da proposta da própria Federação em valer-se de sua capilaridade para levar o SPD mais longe. À frente da organização está o vice-presidente da FEBRAPDP, Leopoldo Antônio Pereira, engenheiro agrônomo, sócio proprietário e diretor administrativo/financeiro do grupo Fazendas Reunidas ACP Filhos e Netos, de Carmo do Rio Claro, MG. Nesta reportagem, ele fala um pouco sobre a iniciativa, sua importância para a agricultura sustentável e faz ainda um raio-x da situação do SPD em Minas Gerais.

O evento contará com a participação de Marcelo Amoreli, consultor agrícola com ênfase em SPD e experiência de mais de 30 anos em sistemas de produção de culturas anuais como milho, soja, feijão, trigo, sorgo, entre outras; Leandro Wildner, pesquisador da Epagri, de Santa Catarina, e Telmo Amado, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, e PhD em Ciências do Solo. Juntamente com o I Fórum Sul Mineiro de Sistema Plantio Direto, acontece também o XXI Seminário Unifenas Rural. O apoio aos eventos é da Café Brasil Fertilizantes, Prorecover, AgroCP, Case IH, Racine, Coopama, Integrada Cooperativa Agroindustrial, Koppert, SPD Soil Diagnostics, Pioneer, Renovagro e Agrogalaxy. Os eventos acontecem no auditório Professor Edson Antônio Vellano, da Unifenas.

Pergunta: Sobre o 1º Fórum Sul Mineiro de SPD e Sustentabilidade, que acontecerá em Alfenas, em maio. Qual a proposta do evento, qual o contexto em que é realizado e quais as expectativas da organização?

Resposta: A ideia do evento veio através de um pedido do presidente da FEBRAPDP, Jonadan Ma, que nos pediu que desenvolvêssemos fóruns regionais para divulgação e difusão de informações sobre o Sistema Plantio Direto. Como vice-presidente da federação, procurei a Unifenas, que possui cursos na área das ciências agrárias, e a Emater para que pudéssemos viabilizar o evento. A ideia do I Fórum Sul Mineiro de Sistema Plantio Direto e Sustentabilidade Agrícola é levar informações sobre o SPD, através de profissionais técnicos ligados à federação e à agricultura sustentável, principalmente para os estudantes de agronomia esse conhecimento. Logo logo, esse pessoal vai estar formado, atuando nas empresas e no campo, e tendo mais conhecimento sobre o SPD, contribuirão com o processo do crescimento do sistema aqui em Minas Gerais. A ideia é fazer também que as universidades e produtores da região tenham um pouco mais de conhecimento sobre o sistema em sua íntegra, em seus três pilares básicos, pois o que mais se vê por aqui é o plantio direto sendo adotado apenas parcialmente. Procuramos envolver a Emater também neste projeto por se tratar do mais importante órgão de extensão rural aqui da região e contar com mais de 60 técnicos, que terão no fórum a possibilidade de reforço em sua capacitação em SPD. Tal envolvimento é muito oportuno porque a capacitação dessas dezenas técnicos vai abrir uma luz de conhecimento bastante importante para a divulgação e para assistência técnica na região. Este é um dos principais gargalos para a maioria dos produtores na implantação e na modernização da tecnologia. É justamente através desses dois órgãos – universidade e extensão rural – que poderemos chegar mais facilmente ao produtor para que o conhecimento seja mais difundido, trazendo resultados mais adiante.

 P: Sobre o SPD em MG, quais as estimativas de áreas sob PD de forma parcial e de áreas sob o SPD de forma integral?

R: Em Minas Gerais, o Sistema Plantio Direto ainda está bastante atrasado e as áreas são relativamente pequenas. Temos aqui na região de Alfenas, no Sul de Minas, onde estamos promovendo o Fórum, o Marcelo Amoreli, um técnico bastante competente e que há muitos anos vem trabalhando e dando assistência a várias fazendas da região na luta pela implantação do SPD. Por isso, especificamente, a região está um pouco mais desenvolvida no processo de adoção do sistema de forma integral, enquanto a maioria das demais regiões de Minas Gerais o plantio direto é realizado predominantemente de forma parcial. Produtores e técnicos do estado ainda precisam de conhecimento para entender e poder dar um novo passo no sentido de empregarem a técnica de modo integral, baseada nos três pilares. Nossa função é justamente tentar viabilizar esse desenvolvimento e levar conhecimento para que o SPD possa evoluir, substituindo plantio direto parcial.

P: Qual a justificativa para a adoção apenas parcial? Há explicações econômicas, agronômicas/técnicas, culturais ou outras ou todas juntas?

R: A primeira justificativa é realmente a falta de conhecimento. Em muitas regiões de Minas, principalmente, aqui no Sul do estado, não temos condições de topografia tão boas quanto às de outros estados como Paraná e São Paulo, por exemplo. Então, na grande maioria dos casos são pequenos produtores e, assim, não temos muitas fazendas nem empresas com áreas muito extensas. Há também falta de conhecimento por parte das universidades, que têm tido bastante dificuldade de técnicos para poder levar esse processo um pouco mais a fundo no conhecimento e na pesquisa. Outro fator importante é que 50% das áreas de milho são voltadas, principalmente, para produção de silagem, um processo que acaba criando bastante dificuldades para que o produtor use o Sistema Plantio Direto. Normalmente, se colhe o milho em épocas de muita chuva, gerando muita compactação e muito estrago no solo. Torna-se então recorrente a necessidade de o produtor passar a grade ou uma niveladora para poder arrumar os efeitos que o tráfego de máquinas pesadas causa no sistema. Neste contexto, por um aspecto mais técnico, o produtor faz a adoção do plantio direto parcial.

P: Na sua opinião, qual o principal desafio a ser vencido para reversão deste quadro?

R: O principal desafio é a falta de conhecimento técnico, de assistência e técnicos com competência e conhecimento para poder colocar e implantar o Sistema Plantio Direto na região. Hoje, a gente tem visto que os produtores, a partir do momento que vão conhecendo e tendo acesso à assistência técnica, vão implementando as novas tecnologias em suas lavouras. Temos visto, por exemplo, os produtores da região adotando os mixes de plantas de cobertura, não deixando mais o solo descoberto no período do inverno. O trigo também está entrando com força na região neste mesmo período, o que tem ajudado na rotação de cultura. A reversão do processo vai vir dentro deste quadro.

P: A partir da missão da Federação de tornar o SPD ainda mais adotado, valendo-se, inclusive, da capilaridade dos estados, como especificamente no seu estado esse esforço será feito? Já existem ideias, projetos, estratégias para essa tarefa?

R: Acredito que a partir do momento em que a FEBRAPDP abriu condições para que estudantes, produtores e técnicos pudessem se filiar à instituição por valores bastante simbólicos, vou deflagrada uma estratégia vai levar muito mais conhecimento e terá muito mais participação desses setores que precisam ser atingidos; principalmente, o setor de estudantes e técnicos, que podem acompanhar os programas da Federação. Acredito que este foi um passo muito importante como projeto e estratégia para que o SPD se divulgue mais e venha a entrar em áreas novas através desse conhecimento. Por esse motivo, acho que a administração do presidente Jonadan Ma tem sido muito efetiva no sentido de buscar esses caminhos para a transmissão de conhecimento, através de fóruns, de treinamentos, idas às escolas, fazer palestras nas universidades, principalmente, de agronomia; tudo para que esse projeto do Sistema Plantio Direto possa ser implantado com mais tranquilidade e conhecimento.

P: Como o senhor percebe atualmente o engajamento/interesse dos produtores estaduais em se envolverem ou apenas ouvirem orientações técnicas que proponham essa mudança para a adoção mais integral do SPD?

R: Tenho visto o crescimento da procura por orientação por parte dos produtores, que estão entendendo e aprendendo que não é só a parte química a única maneira de reduzir custos de produção, que hoje é necessário valer-se de um sistema, através do qual ele tem acesso a soluções mais completas e sustentáveis. Então, há uma busca, que pode se evidenciada pelo grande crescimento do uso de plantas de cobertura para passar o inverno, pela adoção desses mixes de plantas de cobertura, pela adoção de rotação de culturas mais intensivos e mais equilibrados. Enfim, temos visto a procura dos produtores para sair daquele dueto soja-milho em sucessão. Estamos vendo uma forte entrada do trigo na região, o que é algo muito interessante também porque a cultura de inverno contribui para deixar palhada no sistema. Isso tudo é importante. Precisamos de mais soluções tecnológicas. Foi justamente neste sentido que pedimos as palestrantes do fórum que abordem em suas apresentações a questão sobre o processo de compactação ligado à produção de silagem, como mencionei anteriormente. A ideia é oferecer alternativas para se contornar esse obstáculo e poder viabilizar o SPD de forma integral na região.