Integração Lavoura-Pecuária traz benefícios mesmo com adversidades climáticas

Por Roberto Monteiro, IDR-Paraná

Integração Lavoura-Pecuária traz benefícios mesmo com adversidades climáticas
Foto: Divulgação IDR-Paraná

Até pouco tempo atrás o produtor Lairton Berti Garcia, de Moreira Sales, enfrentava sérias dificuldades para manter seu rebanho alimentado durante o inverno.  Com pasto nativo e solo arenoso, a oferta de alimento para os animais sempre foi pequena nesse período. Como o produtor trabalha com a criação de bezerros, frequentemente ele era obrigado a vender animais. O que salvou Garcia foi uma tecnologia que vem sendo disseminada em todo o estado pelos servidores do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater), a Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Há quatro anos a prática foi implantada na propriedade e hoje sobra pasto e a produtividade das lavouras também aumentou.

 A propriedade de Garcia tem 76 hectares. Nessa área ele mantém 130 animais da raça Nelore. São 74 matrizes, 26 novilhas, 26 bezerros e três reprodutores. O zootecnista Fernando Alves, do IDR-Paraná de Moreira Sales, acompanha o trabalho na propriedade. Ele explicou que as áreas de lavoura, que eram deixadas em pousio no inverno, deram espaço ao capim braquiária. Geralmente a forrageira é implantada de forma solteira, mas em algumas áreas também é consorciado com o milho safrinha. O capim serve de alimentação para os animais no inverno, fazendo com que as áreas de pastagem perene permaneçam em descanso até o preparo para o plantio da soja.

 a propriedade de Garcia é uma Unidade de Referência no sistema Integração Lavoura-Pecuária para um grupo de quinze produtores da região. A principal vantagem dessa prática, de acordo com os técnicos, é dar ao produtor uma maior produção, com a diversificação de explorações numa mesma área. Para Alves, do IDR-Paraná, o ILP oferece sustentabilidade econômica, social e ambiental para a atividade agropecuária.

 Garcia já tem registrados os resultados das últimas três safras. São esses números que servem de incentivo para que outros produtores se convençam das vantagens da ILP. “A partir da adoção desse sistema, percebi minha produtividade na agricultura melhorar, mesmo em anos com condições climáticas desfavoráveis. Com o gado não precisei mais vender animais para aliviar os pastos, pelo contrário, tenho pasto sobrando no inverno e consigo reter mais fêmeas para matrizes, aumentando o rebanho” relatou o produtor.

 

Planejamento

 Um dos segredos para o sucesso da Integração Lavoura-Pecuária é o planejamento forrageiro da propriedade. O zootecnista explicou que o produtor precisa considerar não apenas a parte pecuária, mas também as áreas de lavouras na hora de fazer esse planejamento. "Por utilizarmos o sistema ILP, após o plantio da soja já definimos as áreas que trabalharemos milho no cultivo solteiro, milho com a braquiária ou apenas a braquiária na segunda safra. Leva-se em conta também o tamanho do rebanho, o preço do milho e as áreas com invasoras a serem controladas", observou Alves.

 Como são implantados talhões, em consórcio ou não, o produtor consegue ter áreas onde a braquiária solteira fornece pastagem ainda no fim do outono, geralmente 50 dias após o plantio em anos com condições climáticas adequadas. "Nessas áreas realizamos o acompanhamento da produção de massa de forragem por meio de amostras e correlacionando com a altura da pastagem. A divisão em piquetes com cerca elétrica facilita muito o manejo da pastagem e proporciona um melhor aproveitamento de área", acrescentou Alves.

 

Lavouras são beneficiadas

 O zootecnista explicou ainda que os talhões que são implantados em consórcio de milho com a braquiária fazem a segunda etapa do planejamento. "Após a colheita do milho, os animais entram na área e pastejam as sobras e a braquiária que estava ali estacionada, devido ao sombreamento do milho, agora consegue dar sequência na emissão de perfilho. Dessa forma os animais são retirados das áreas de pastagens perenes, no fim do outono e só retornam para esses locais no finalzinho do inverno, quando as áreas de integração precisam ser dessecadas para dar início ao plantio de uma nova safra de soja", disse Alves. A área permanece com grande volume de resíduos de cobertura provenientes das folhas, talos e raízes do capim, além das fezes e urina dos animais que pastejaram no local. Essas condições acabam por propiciar um bom desenvolvimento da soja, especialmente em épocas de estiagem, avaliou o extensionista.

 Alves chama atenção para a importância da ILP em anos de adversidades climáticas. "A safra 2020/2021 vem sendo marcada por uma grande estiagem em nosso estado, afetando praticamente todos os setores agropecuários. Vários produtores tiveram problemas com a germinação das braquiárias para o sistema de integração, afetando em grande parte a oferta de volumoso e posteriormente o sistema de plantio direto com boa cobertura de palhada. Contudo, ainda assim é vantajoso em comparação ao antigo sistema de pousio, mostrando-se uma ótima alternativa de manejo sustentável do solo e viabilidade econômica das atividades agropecuárias", concluiu o extensionista.