CAT MATOPI: solo fértil e trocas de experiências

Da Redação FEBRAPDP

CAT MATOPI: solo fértil e trocas de experiências
Jeankleber Bertoluzzi, Daniel Lech, Vilson Ambrozi, José Antônio Gorgen, Jonadan Ma, Paulo Roberto Kreling, Gisela Introvini, Alzir Pimentel Aguiar Neto e Iara de Geus durante lançamento da proposta de criação do CAT MATOPI

Mais um Clube Amigos da Terra está surgindo! Lançada agora em maio, no município de Balsas, MA, durante a Agrobalsas, maior feira de agronegócios do estado, a proposta de criação do novo CAT abrangerá inicialmente uma extensa área produtora formada pelos estados de Maranhão, Tocantins e Piauí. Sendo batizado, portanto, CAT MATOPI. A ideia central é trazer para essa fronteira agrícola, um modelo que já pavimentou muitos resultados positivos no Centro-Sul do Brasil. Através de reuniões constantes entre os produtores regionais, cria-se a dinâmica de um “pensar junto” a operação sustentável da produção agrícola; o que passa por definir estratégias que visam garantir o norteamento de sistemas produtivos dentro das práticas modernas e sustentáveis em todos os seus aspectos. Evidentemente, contribuindo também para a consolidação do Sistema Plantio Direto (SPD) como base.

Produtor rural, engenheiro agrônomo, presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte (FAPCEN) e vice-presidente FEBRAPDP para o Estado do Maranhão, Paulo Roberto Kreling é um dos responsáveis, junto com Gisela Introvini, superintendente da FAPCEN, pela iniciativa. Segundo ele, a implantação do CAT MATOPI, é de fundamental importância já que representa uma oportunidade para que os produtores possam se reunir a fim de trocar experiências sobre o que deu certo e também o que não deu certo no operacional da lavoura.

“Precisamos corrigir os problemas com troca de informações, conhecimentos e tecnologia, e o segredo é estar sempre abertos a mudanças, para termos sucesso na nossa atividade. O produtor que precisa validar as novas tecnologias, testar e aprovar, por isso a importância do CAT, difusão de conhecimento e informações”.

Para contextualizar a iniciativa, Kreling explica que “quando os migrantes vieram plantar soja nestas chapadas, a região era tida como pobre e improdutiva. Não tínhamos genética, nada por fazer. Através do convênio entre a FAPCEN e a Embrapa Soja, firmou-se uma grande parceria, para melhoramento de cultivares região de baixa altitude, mas continuávamos com a monocultura da soja pós milheto. Mais avanços nas pesquisas trouxeram a soja precoce, e daí com o milho safrinha, entendemos o que seria um modelo ideal. Em 2005, surgiu a pesquisa da Embrapa Meio Norte com Integração Lavoura Pecuária (ILP) e, daí, as braquiárias; finalizando a compreensão do que seria minimizar as altas temperaturas do solo, sendo que mesmo em épocas de estiagem tivemos colheita acima da média, mostrando que o caminho seria este e sem volta! Para nós, sustentabilidade antes era promover renda e empregos espalhando a soja por todo Norte e Nordeste do Brasil, hoje entendemos que a sustentabilidade está em mostrar a regeneração que fizemos nos solos, com altos tetos produtivos. Tudo isso foi possível através da transferência de informações e tecnologias que a FAPCEN vem trazendo ao longo dos anos nesta região”.

Kreling destaca que nessa jornada, o SPD sempre teve um papel determinante, pois revolucionou e transformou a agricultura regional em todos os sentidos, ambiental, social e econômico. “Após 51 anos do SPD, ainda temos muito o que fazer e melhorar, precisamos continuar difundido e incentivando os produtores, a implantar realmente o SPD em suas propriedades, com boas práticas agrícolas, rotação de culturas, cobertura permanente do solo com mix de plantas, investir em tecnologia para ter eficiência operacional, e com isso garantir a sustentabilidade. Agradecimento eterno aos pioneiros do Sistema Plantio Direto na Palha, Hebert Bartz, Franke Dijkstra, Nonô Pereira!”, complementa.

 

Responsabilidade

De acordo com Jonadan Ma, presidente da FEBRAPDP, Kreling e Gisela viram a necessidade de envolver os produtores locais em um trabalho integrado a ações que eles já vêm tocando em um projeto junto à Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS), entidade que trabalha com soja responsável para exportação. “Precisava realmente fortalecer esse conceito do SPD na região dos estados de Maranhão, Tocantins e Piauí. Originalmente, a região é conhecida como MATOPIBA, mas a Bahia não entrou também porque já tem um bom trabalho regional sendo conduzido pelo vice-presidente estadual da FEBRAPDP, Luiz Pradella”, explica Ma.

O perfil predominante no MATOPI é de áreas bastante produtivas em regiões de cerrado, bioma amazônico e até bioma caatinga. Os resultados alcançados hoje são bastante expressivos. A fazenda do Paulo Kreling, por exemplo, tem uma produtividade média de 70 sacas de soja por hectare. “Trata-se de uma construção de fertilidade no solo feita ao longo dos anos. Possuem safrinha também e querem melhorar mais ainda esse conceito não se permitindo ficarem restritos apenas à sucessão no binômio soja-milho safrinha. Embora a exploração nas terras da região já tenha seus 35 ou 40 anos, ainda há muito para desenvolver e para melhorar ainda. São as áreas de altiplanos ou chapadas, mas também há áreas em altitudes mais baixas, e conseguir performances produtivas tão elevadas como essas em latitudes próximas à linha do Equador é uma grande conquista do país”, destaca o presidente da FEBRAPDP.

“Ainda segundo ele, entre as causas comuns ao aperfeiçoamento dos produtores regionais estão a necessidade de trabalhar mais e melhor o solo, a relação das culturas, como aplicar bem os três princípios do SPD (não revolvimento, cobertura permanente e rotação de culturas). Tais demandas, principalmente no tocante ao manejo do solo, requerem mais troca de experiências, de informações e são os produtores que vão construir isso. Claro que tudo que vem de pesquisa vai ajudar, mas a gente sabe que as informações às vezes andam mais rapidamente junto aos produtores do que na própria pesquisa. Então essa troca de experiência vai ser muito importante. A criação do CAT visa exatamente atender essa necessidade de conhecimento entre os produtores, envolvendo evidentemente também técnicos, extensionistas e consultores”, observa Ma.

 

Compartilhamento de boas práticas

Já para José Antônio Gorgen, CEO, da GEES S/A, e vice-presidente da FEBRAPDP no Piauí, a criação do CAT MATOPI, é avaliada com muito otimismo por se tratar de uma ferramenta “importante para redução dos custos de produção e manter altas produtividades de grãos, sempre levando em conta o equilíbrio nutricional e biológico do solo, uma premissa básica para os adeptos do CAT”.

“Neste sentido, os integrantes do Clube servirão como referências a produtores que ainda não praticam, mas que querem iniciar o manejo sustentável do solo e das plantas. Bem presente na região do MATOPIBA, o SPD, com a instituição do CAT vai ingressar numa nova fase, que é a da consolidação do sistema com o upgrade da biologia do solo e plantas com as novas tecnologias de adubação, mais equilibrado e culturas de cobertura com mix de plantas”, ressalta Gorgen.

Alzir Pimentel Aguiar Neto, produtor rural e presidente da Aprosoja Piauí, diz que a ação é fundamental dentro da missão de estimular as boas práticas agronômicas e para o fortalecimento da agricultura regional. “Temos o sentimento de que o SPD precisa ser adequado à nossa realidade, o que é fundamental. Neste sentido, o CAT vai incentivar o compartilhamento das boas práticas entre nós agricultores e isto pode fazer com que erremos menos e multipliquemos o que se tem melhor. O SPD é uma prática necessária no Piauí, mas em razão das novas áreas, ainda é timidamente empregado e precisa avançar”, afirma.

 

Referência pioneira

“Os sistemas de uso do solo precisam se ajustar para dar a dita sustentabilidade ao processo. O SPD bem discutido deve ser a solução para esse desafio, uma vez que nos trópicos mais próximos à Linha do Equador, a agricultura moderna só sobrevive se mantiver ou aumentar o teor carbono no solo. Somente com SPD bem implantado e conduzido se consegue isso. O agricultor por aqui precisa compartilhar mais as informações já obtidas”, observa Vilson Ambrozi, presidente da Aprosoja Maranhão.

Ele pondera, no entanto, que o chamado MATOPI é a fronteira agrícola do momento, com uma extensão territorial de 2 mil quilômetros de sul a norte e de algo em torno de 600 quilômetros de leste a oeste, o que implica em realidades de clima e solo muito distintas. Sendo assim, seria até pretensioso imaginar que um único CAT atenderia aos três estados. A ideia, para Ambrozi, seria regionalizar ainda mais, talvez criando mais Clubes Amigos da Terra voltados para as especificidades de cada uma das sub-regiões que compõem o MATOPI.

De acordo com o presidente da FEBRAPDP, Jonadan Ma, a ideia é que a constituição do CAT MATOPI sirva justamente para aproveitar a já excelente integração dos produtores da região em torno desta que seria a primeira unidade, podendo posteriormente ser replicada CATs locais. “Trata-se do estabelecimento de uma primeira unidade, sediada em Balsas, mas atendendo toda região do MATOPI, para servir como uma referência pioneira”, esclarece.

 

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